quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Paixão e Direito

"Ninguém fala com mais paixão de seus direitos do que aquele que no fundo da alma tem dúvida em relação a esses direitos. Levando a paixão para o seu lado, ele quer entorpecer a razão e suas dúvidas: assim adquire uma boa consciência, e com ela o sucesso entre os homens."

(Friedrich Nietzsche)

sábado, 14 de novembro de 2009

Agradecimento

Nesta minha "data querida", nada melhor do que comemorar. Rever e falar com os amigos, receber uma ligação daquele parente ou colega que não falou com você desde o seu último aniversário, mas que sempre lembra da sua data, ganhar uns mimos da família... é isso aí. Aniversário... deste não se escapa se estiver vivo. Bom? Depende do ponto de vista. A cada ano vivemos mais um ou menos um ano? Para os que acreditam em destino, acho que pode ser menos um. Para mim é mais um. Há algum tempo a vida deixou de ser uma contagem regressiva para mim.
É bacana escrever no dia do aniversário. Registrar as ideias, perceber como se pensa, com que olhos se vê o mundo. Mas acredito que melhor ainda é ler daqui muitos anos. Perceber o quanto mudamos, se para pior ou para melhor, ver o que ficou para trás e o que veio de novo.
Como reza o rito, comemorar aniversário é ter direito a fazer desejos. Para maioria das pessoas, três. Mas apenas três desejos é muito pouco, e como não há nada que me obriga a isso, vou inovar. Desejo muita coisa! Quero além do básico: saúde, dinheiro e felicidade. Quero que se mantenha a minha frágil essência frente ao contexto. Quero poder, daqui outros 29 anos, perceber que ainda sou um sonhador, que acredita que as pessoas são boas e que toda maldade delas é apenas fruto do meio em que elas vivem. Quero ainda, que possa "levantar minhas bandeiras", sem perder as esperanças, sem desistir, mas sim, percebê-las como realizáveis. Quero continuar a amar sempre, sejam os amigos, familiares, namorada ou as pessoas como um todo. Quero vencer, sorrir e me expor ao que a vida pode oferecer ou cobrar, sem medo de sofrimento ou arrependimentos. Quero não desanimar frente as dificuldades. Enfim, é tanta coisa que se deseja... Para encerrar a lista, parafrasear um dos meus ídolos cai bem. Quero que eu seja sempre racional e forte, sem perder a ternura. Pois, nada melhor do que ser sereno frente ao que é imutável, corajoso e sensível diante do mutável e sábio para distinguir um do outro.

A todos aqueles que se manifestaram nesta data e me transmitiram suas mensagens de carinho e apreço. À galera da faculdade (manhã e noite), aos meus pais, irmã, parentes e filho, à Luciana, aos amigos de longa ou curta data, um abraço fraterno e sincero. Obrigado e até a próxima!

domingo, 1 de novembro de 2009

O Bom do Ruim

Escrevo em prol de um sistema falido (acho que com apenas esta frase, não dá nem pra saber de qual deles estou falando, se do capitalismo ou do socialismo).
Pois bem. Como defensor dos fracos e oprimidos que geralmente sou, advogo para o socialismo já faz um tempo. Esclareço que desde que entendi a lógica do mesmo, defendo-o como simpatizante e não como militante.
Primeiramente, reafirmo que para se criticar algo é necessário conhecê-la ao menos e que, quanto mais se conhece, mais profundas e acertadas podem ser essas críticas. Confesso que nunca vivi um socialismo e nem visitei Cuba ou outro país que adote o sistema. Minha visão é baseada na teoria, ou seja, baseada em livros e estatísticas. Entretanto, para criticar o capitalismo não é necessário muito esforço e medir as palavras. Basta prestar um pouco de atenção em nossa volta, no mundo que construimos. É realmente muito fácil.
Redijo focado naqueles que não conhecem o socialismo ou têm uma noção mais do que vulgar do que este possa ser. Texto que assim sendo, não se encarregará de dar uma demonstração detalhada do que é ou deveria ser o sistema, mas única e somente, abordar seus pontos mais controversos em defesa desta ideologia que para a grande maioria é sinônimo de um desastre histórico completo e nada mais. Então, justiça seja feita.
Vale destacar, que o socialismo teve sua origem como consequência do próprio capitalismo. Quem sabe um pouco de história, mais especificamente sobre a situação social européia pós revolução burguesa entende que nada mais natural e dialético, é o surgimento de uma ideologia igualitária, do idealismo marxista e das intensas lutas da classe operária, assim como a tomada de Paris pelos trabalhadores e todo embate entre burguesia e proletariado, além de vários outros enventos do tipo que marcaram os meados do século XIX (momento histórico muito bem retratado no filme francês Daens - Um Grito de Justiça, de 1993, onde trabalhadores, entre estes crianças com menos de 10 anos, não possuiam o mínimo de dignidade e direitos).
Entendo que, comparar o que é melhor (ou pior), se o capitalismo ou o socialismo, é como comparar se é melhor comer uma pizza quando se está com fome ou nadar numa bela piscina quando se está com muito calor. Se é pior morrer afogado ou queimado. Ou seja, não há melhor nem pior. Ambos são cheios de falhas, de problemas e também de pontos positivos (coisa que no socialismo grande parte das pessoas não consegue enchergar). Isso irá variar da consciência de cada um. Acredito que um sistema que comporta uma população de 6 bilhões de pessoas, onde destas, 1 bilhão (1/6) passa fome, não possa ser algo bom. Um sistema onde necessariamente, para que um ganhe outro deve sair perdendo e que não consegue introjetar em seus indivíduos nada mais do que o consumismo e a competição, não pode estar correto. Uma sociedade mundial que, se somada suas riquezas materiais individuais e divididas equitativamente, não deixaria um só habitante sem casa, comida e conforto, certamente não deve ser objeto de orgulho.
E o socialismo? Bom, sabemos que perfeito também não é. Para dizer que não entrei no mérito das experiências passadas, apenas tenho a dizer que, Stalin ou Mao Tsé-Tung são tão loucos quanto Hitler e Mussolini e que buscar a explicação para as atrocidades socialistas em Marx, em sua teoria, é o mesmo que culpar Jesus Cristo pela inquisição católica.
Não canso de repetir em reiteradas conversar que tenho sobre o assunto que nenhuma ideologia funcionará se não houver a rara consciência. O ser humano, antes de se imaginar cumprindo uma lei, mesmo que seja para o bem coletivo, pensa em como burlá-la. Como exemplo prático, cito a nossa "lei seca". Antes que se cogite dirigir sem ingerir bebidas alcoólicas, pensa-se em como não fazer o bafômetro ou como "enganá-lo", seja com balinhas e manobras ou até mesmo em andar com um dinheiro a mais no bolso para o caso de parar em uma "blitz", testar a honestidade do policial. Assim é também com qualquer ideologia política, social, religiosa e etc.
No caso do socialismo especificamente, nunca funcionará mesmo, se toda a população não possui uma "consciência coletiva". Este é o ponto fundamental que o difere do capitalismo. Não há melhor nem pior, mais rico ou mais pobre, todos são um só, uma coletividade, uma sociedade como um todo. Necessariamente nesta, para que um cresça, outros terão que crescer. Muitos dirão: "mas isso é ruim, pois nem todo mundo se esforça de maneira igual e nem todos têm a mesma facilidade e destreza para o trabalho, desta forma, muitos trabalharão pesado para que outros se beneficiem sem fazer nada". É verdade. Mas isso já não acontece no capitalismo? O capitalista, geralmente, não é o cara que investe seu dinheiro e com isto administra seus lucros advindos do esforço das várias pessoas trabalham duramente para que ele se beneficie? Para a contra argumentação "administrar o capital também é trabalho". Sugiro ler um pouco sobre o tema, sobre a "mais-valia", sobre "força produtiva" e outros conceitos básicos para que se desfaça tranquilamente esta noção (um pouco de Marxismo não mata se você não for naturalmente louco).
Voltando à questão da consciência, num sistema igualitário, compromete-se tal quando alguns indivíduos se acham "melhores" do que os outros. É o caso, por exemplo, de alguns atletas cubanos que vieram ao Rio de Janeiro para os jogos do Pan Americano e fugiram da concentração onde estavam suas equipes, numa tentativa de refugiar do sistema socialista. Isto é muito compreensível. Simplesmente, este atleta se sente melhor do que seus companheiros. Ele acredita que merece ter um conforto maior do que os outros, status e destaque. Quer reconhecimento por seu mérito, mas não formalmente e sim materialmente. Não basta ser herói nacional. Ele deseja ser proprietário de mansões, carros importados e todo luxo possível quando se é um campeão esportivo, um atleta de ponta. Porém, se esqueceu que foi o próprio sistema em que ele cresceu que o tornou um atleta deste nível. Que num país capitalista, seria necessário um grande investimento financeiro para isso e que provavelmente, não conseguiria arcar com todo treinamento e sustento para se tornar um campeão. Quem conhece os números do futebol e de outros esporte no Brasil, de quantos tentam ser o "novo Pelé" e conseguem, sabe do que estou falando.
O capitalismo trabalha com uma lógica muito mais instigante e eficiente. Isto é necessário admitir. A noção difundida de que qualquer um pode vencer na vida e que para isso basta esforço e dedicação, é perfeita! Pois apesar da mínima probabilidade de uma pessoa pobre se tornar rica, mesmo assim, todos tem essa esperança. Para um vencer, outro tem que perder. Mas todos nós, tanto eu como você, acreditamos piamente que não seremos nós os perdedores. Cruel ilusão de um sistema que não absorve boa parte da mão-de-obra disponível no mercado e que introjeta a cada dia, de forma mais agressiva, o sonho do consumo e do status em cada indivíduo.
Quanto a utopia, considero o sistema capitalista tão utópico quanto o socialismo tendo em vista que este também não cumpriu a função a que ser propôs. A Revolução Burguesa nunca promoveu Liberté, Igualité e Fraternité. Além disso, destaque para os 220 anos de tentativas do Capitalismo em se mostrar um sistema eficiente contra 60 anos do Socialismo. Para uma boa análise comparativa, procuremos ver o que foi o Capitalismo nas suas primeiras décadas, no período da Revolução Industrial e depois tiremos as conclusões.
Diria hoje, que é no mínimo interessante que um país como Cuba, apesar de toda crítica negativa que recebe por ser filho único do sistema socialista atual, possa estar no ranking mundial de IDH's (Índice de Desenvolvimento Humano), à frente de países do G20 como Brasil, Rússia e China ou outros não menos desenvolvidos como México. (ver http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u633315.shtml). Mesmo com a falta de luxo e grandes tecnologias, Cuba é um país com 0,02% de analfabetos e com uma educação e medicina invejáveis a países de primeiro mundo. Uma população em que 85% possui casa própria e que os outros 15% moram de aluguel pagando 1 ou 2 dólares por mês para o Estado, num sistema de amortização da dívida, tornando-se assim proprietário, o morador que quitar o saldo devedor. Sobre o incentivo esportivo na ilha, basta ver o desempenho das delegações cubanas em Olimpíadas. Tudo financiado pelo Estado. A expectativa de vida é maior do que a dos EUA. Para conferir esses dados, há vários sites sobre os números sociais em Cuba. Em pouco tempo de pesquisa em bons sites, qualquer um pode confirmá-los e compará-los com o de outros países capitalistas tidos como "desenvolvidos".
Gostaria de deixar claro, que apesar da defesa do sistema socialista como simpatizante que sou, não acredito que seria possível e nem defendo, a esta altura histórica, uma implantação de tal sistema. Está fadado a se extinguir, não por bem e sim por mal. O capitalismo venceu (é que se vê até então). Cabe a nós correr atrás da nossa escassa sombra frente a este ensolarado e ardente mercado. Agora é tentar extrair o bom do ruim. Sendo assim, boa sorte a todos.

"Se você correu, correu, correu tanto
e não chegou a lugar nenhum
Baby, oh baby
Bem-vinda ao século XXI"
(Raul Seixas e Marcelo Nova)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Que Eu Quero

Sim. O que eu quero? Quero muitas coisas, mas com certeza a mais importante delas é que quero ser feliz.
Quero amar e ser amada como se fosse pra sempre.
Quero cuidar do meu filho, dar todo o amor que tenho guardado. Quero vê-lo acima de tudo muito feliz.
Quero me entender com o meu pai, conversar com ele.
Quero morar sozinha, independente!!!
Quero pagar minhas contas e andar de cabeça erguida!
Quer sair dessa cidade, mudar. Respirar novos ares!
Quero ter tempo pra fazer as coisas boas da vida, assistir TV, ler um bom livro, rolar na cama com meu filhote e fazer muito, muito sexo “with Love”.
Quero viajar, conhecer outros povos, outras culturas.
Quero fazer compras. Quero comprar um tantão de coisinhas inúteis e sedutoras.
Quero falar não pro que me aborrece e sim pro que me dá prazer.
Quero retrucar bem alto quando falarem mal de mim.
Posso trabalhar, mas quero que isso seja inexoravelmente um TESÃO.
Quero sentir menos culpa por não querer tudo igual a todos.
Quero ter férias, 13º, INSS, FGTS.
Quero ler e descobrir sobre coisas que ainda não sei. Quero ouvir canções que nunca escutei.
Falar com pessoas que nunca falei. Quero ir pra Sampa, Cuba, Nepal, México e até Islândia.
Quero um balde de açaí, uma caixa de bombons só minha, um travesseiro e um filme pra ver.
Quero tudo isso e muito mais. Quero coisas que posso e não posso ter. Mas não quero perder essa mania de amar, amar você.
Quero a paz da inquietude, mas quero também ficar quieta pensando no que vou querer amanhã.
Enfim, quero, quero e quero. É o desejo rondando, batendo a porta, saindo pra fora pelo poros, pela carne, pela boca, pelo olhos e mais uma vez escorrendo pelas mãos da gente.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Leitor (das entrelinhas)

Recentemente assisti ao filme "O Leitor". Quem já assistiu há de concordar, é um bom filme. Mas o que mais me chamou a atenção, foi o fato de mais uma vez, o cinema americano trazer a tona o tema do Holocausto. Evidência é: o assunto vende! E muito! Os motivos parecem ser óbvios, pois a comoção social da matança nazista é tida como a pior entre as piores coisas que já aconteceram em toda a história da humanidade. Se não foi a pior, com certeza é a mais lembrada. Coincidência? Filmes como "O Leitor", "A Vida é Bela", "O Pianista", entre outros, são lançados todos os anos (são muitos, quem é cinéfilo sabe), contando sempre a mesma e velha história, relembrando, dramatizando e comovendo-nos mais e mais, alimentando incessantemente a nossa pena e ao mesmo tempo nosso ódio. O que pouca gente sabe (talvez não tão pouca), é que o povo judeu é o mais rico do mundo. E mais, é o único povo que recebe uma indenização pelo genocídio, na intenção de "aliviar" a dor do massacre feito pelas nações participantes da Segunda Guerra Mundial.
Muita gente deve estar pensando que se trata de mais um texto de um louco neo-nazista ou de um desses caras que querem achar montagens nas fotos da guerra para afirmar que o holocausto não existiu. Longe de mim cair nessa empreitada. Não sou historiador e nem adorador de Adolf Hitler - acredite, eles existem!
Na verdade, me incomoda a injustiça. Uma injustiça encobrida pela história, pelo cinema, pelos livros e pela hipocrisia, pois nem de longe, a quantidade de judeus mortos se assemelha a de negros durante os séculos de escravidão ou a de índios na América com a chegada dos portugueses e espanhóis. Porque há tantos filmes e lágrimas por causa do povo judeu e nada se fala dos negros e índios? Não justifica o argumento de que a morte de um foi pior do que de outro. Morte, humilhação e violência são sofríveis igualmente em qualquer época, continente ou etnia. O que é pior? Câmara de gás ou açoite até o último suspiro? Dá pra escolher? Falar que a Segunda Guerra é um fato mais recente, também não é nem um pouco sensato. Dizer que o cinema faz isso para que não se repitam os erros do passado, também é uma piada. Além do mais, a piada da loura também seria engraçada se fosse com a morena ou com a ruiva no lugar.
Então, a pergunta é: porque não há tantos filmes, anualmente sendo lançados sobre negros e índios? Quando lançam, por que não há uma publicidade massiva também? Por que não ganham o Oscar? (Na verdade, nem são indicados, pois geralmente são produções de baixo orçamento e etc.). Por que negros e índios não recebem indenizações pelo genocídio também? Por que a morte destes parece tão menor perante a dos judeus, mesmo tendo números incomparavelmente maiores?
Acredito que perante essa rápida análise dos fatos históricos, é possível apenas confirmar dois velhos ditados populares: "dinheiro traz dinheiro" e "a propaganda é a alma do negócio."

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Só para esclarecer...

"A Ciência é fundamentada na idéia de que tudo o que sabemos sobre a natureza pode, em princípio, ser rejeitado caso esse conhecimento não passe pelos testes da observação e da experiência. Assim, toda teoria científica deve passar pelo escrutínio da comunidade científica. Testes e mais testes são feitos com o objetivo de avaliar se predicações de uma dada teoria são corretas ou não. Por mais estabelecida que seja uma teoria científica, ela está constantemente sujeita a novos testes e novas descobertas que podem confirmá-la ou falseá-la. Mesmo teorias amplamente conhecidas e estabelecidas, como a teoria da relatividade de Einstein, até hoje têm suas predições testadas. Continuamente, toda teoria é reavaliada à luz de novos dados e fatos observados na natureza. Uma dada teoria pode, então, ser modificada para acomodar esses dados ou simplesmente descartada, caso não seja mais sustentada pelo que sabemos sobre a natureza."

Trecho extraído de "A Goleada de Darwin", de Sandro de Souza.

sábado, 25 de julho de 2009

"Um por todos e todos por um"

Disse o filósofo francês Joseph De Maistre (1753-1821): "Cada povo tem o Governo que merece". Nada mais sábio! Todavia, não é o que parece quando conversamos com as pessoas por aí sobre a política. Em sua grande maioria, o povo, parece crer que o congresso é uma espécie de sociedade a parte, como se esta não saísse do mesmo lugar de onde todos saíram. Muitos se esquecem, que os eleitos um dia também foram povo, um dia também elegeram, estudaram nas mesmas escolas que muitos e vêem de famílias tipicamente brasileiras. Ou seja, são frutos de uma mesma cultura e a política que estes fazem, é reflexo de seu meio.
Cultura esta, de gente que valoriza a “esperteza”, que acha bonito ser malandro e que sempre “dá um jeitinho” pra tudo. Cultura de gente que paga outra pra ficar na fila para assegurar um lugar. Gente que “fura fila”, que dá uma grana pro guarda liberar da multa, que fica calado quando recebe um troco a mais no comércio, que finge de bobo quando a conta vem menor em um barzinho. Gente que se sente tranquila para falsificar a assinatura do colega de sala para tirar uma nota melhor na prova, que finge estar dormindo quando um idoso entra no ônibus e quer sentar no lugar que lhe é reservado. Só não vê isso por todos os lados quem não sai de casa.
Livrem-me do argumento: “você não pode generalizar”. Posso sim! Não porque todos, sem exceção, fazem isso, mas porque uma parte muito grande das pessoas o faz sem nenhum peso na consciência e a outra parte permite, de forma tácita, como se não fosse problema delas, corrobora o comportamento dos outros. “O problema não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons.” Ser indiferente a tudo isso não justifica nem exime; consente. Alguém duvida, que em uma reunião, palestra ou evento com grande número de pessoas, em que os organizadores forneça em uma mesa, exatamente um pão como lanche para cada um, no final, os que ficarem por último correrão sério risco de ficarem sem o lanche? Quem é que, sabendo que tem um lanche para cada, não corre para pegar o seu pão com receio de ficar sem? A sensação é sintomática.
Esse é o maior problema no Brasil. Não é a pobreza, nem o Congresso, nem o Judiciário, nem os impostos ou a violência. É a educação. Digo, a educação moral e ética, coisa que não se aprende na escola nem na rua. É um problema de consciência, coisa rara por aqui. Qual a diferença entre roubar um chocolate na mercearia ou no bar e roubar um milhão de reias dos cofres públicos? Propocionalmente, o prejuízo aos proprietários é comparável .
Pensemos bem em nossas ações, em nossas escolhas e em nossas palavras, para que não fiquemos procurando culpados e nos esqueçamos de quem é que está construindo essa sociedade. A sensação é de nadar contra a correnteza, eu sei. Mas virar as costas não resolve o impasse. Comportar-se normalmente numa sociedade doente, não é sinônimo de saúde. Depois não vá reclamar, nem do espertinho que entrou na sua frente na fila, nem do deputado que constrói castelo com dinheiro do povo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Show de audiência: horror, gozo e medo na TV

"Os meios de comunicação, especialmente aqueles que se aproveitam dos mecanismos sensacionalistas de exposição das mazelas sociais, exploram a elevação dos níveis de audiência por meio dos estímulos estéticos fortes proporcionados pela exibição de cenas violentas, que exercem sobre a afetividade humana um impacto ambíguo: ao mesmo tempo em que geram a repugnância, geram também o desejo de contemplação do horror. A sociedade da informação, na era pós-moderna, continua sectária da 'concupiscência do olhar'. Da mesma forma que um desastre desperta a curiosidade do indivíduo que se encontra próximo ao local desse acontecimento fatídico e vai ver todos os detalhes possíveis, assim também se dá quando os desastres são transpostos para as imagens da televisão. O máximo de prazer estético que pode ser fornecido ao telespectador por uma rede de TV é a exibição da morte de um indivíduo, ou, em circunstâncias mais atenuadas, dos conflitos entre as forças policiais e os criminosos, as ações de assaltantes, ou ainda as gravações secretas de repórteres sobre as vendas de drogas por traficantes. Em todas essas circunstâncias há no telespectador a erupção da repugnância, do horror e da lamentação, mas também um gozo secreto de prazer pela oportunidade que lhe é concedida de ver, sentado confortavelmente na poltrona, a destruição humana em múltiplas maneiras. O resultado existencial dessa soma de imagens, todavia, não tarda a aparecer, e é o medo."

(Renato Nunes Bittencourt - Doutorando em Filosofia pelo programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Em um futuro não muito distante...

Mesmo com uma ala radical da Igreja Católica apoiada pelo Papa Bento XVI (que de bento não vejo nada) tornando-se mais evidente com a posse deste, ainda sim, o que se vê há tempos, no Brasil e em boa parte do Ocidente, é uma decadência do Catolicismo. Me pergunto se o meu meio poderia causar-me uma falsa impressão. Creio que não. Tido como o maior país católico do mundo, o Brasil apresenta uma sociedade religiosa interessante: perdida ideologicamente e dotada de seguidores tão perdidos quanto.
Primeiramente, gostaria de saber definidamente o que é um "católico-não-praticante". Como funciona isso? O título dado parece ser claro. A meu ver, nem tanto. O que é pertencer a um grupo ou comunidade religiosa da qual não comungo as mesmas atitudes, doutrinas, dogmas e comportamentos? Comparo a um torcedor de futebol, mas que não vai ao estádio, não assiste aos jogos do seu time, nem acompanha placares, resultados, campeonatos e etc. Que tipo de torcedor é esse? Em que ele colabora para o seu time e o que o time pode esperar dele? O "católico-não-praticante" é para a Igreja o mesmo que esse torcedor para o seu time. Nada! Ele apenas faz números, pois se perguntado sobre sua religião, ele se afirmará católico, mesmo tendo ido à igreja pela última vez há 3 anos atrás para um casamento de um amigo. Caso este "fiel" tenha um filho, o batizará também conforme a tradição e apenas fará mais números. E para piorar (ou melhorar), vejo que os católicos-não-praticantes são maioria! Duvida? Olhe a sua volta, no trabalho, na escola, na família, quantos se intitulam católicos e frequentam regularmente a igreja. Não se espante se for apenas alguns. Percebe-se nitidamente a diferença, a nível de devoção, dos evangélicos, espíritas e outros religiosos para os católicos.
Outro tipo de católico não menos interessante, é o "católico-x-tudo", que também tem sido cada vez mais comum na sociedade moderna brasileira: ele possui cristais e outros artefatos para atrair a "boa energia" e afastar o "mau-olhado", acende uma vela para os Orixás na sexta-feira, não come carne vermelha na sexta-feira santa, acredita que já esteve neste planeta em vidas passadas, faz simpatias, benzeções e não abre mão da missa católica aos domingos pela manhã. "Católico Apostólico Baiano", entitulou Rey Biannchi.
Ironias a parte, acho que ninguém discorda que nossos avós eram mais fiéis ideologicamente quanto participativos no que se diz respeito a religião católica.
Alguns poderiam me perguntar, "mas que mal tem isso?". E eu diria: Todo! (Não para mim, mas para o Catolicismo). Isso se deve a perda de unidade e de sustentação do argumento religioso diante do momento histórico em que vivemos, onde a ciência avança a passos largos e cada um quer fundar sua própria crença, sua maneira de orar, se agarrar onde puder e criar seu próprio Deus. Pra alguns poucos, ele ainda é o Deus bíblico, onipotente, onipresente e onisciente. Para outros, é uma "energia", um "ente indefinido"... Para alguns, ele existe, mas não mata nem salva ninguém. Já ouvi dizer que ele apenas "influencia" na vida das pessoas para que elas sigam o caminho do bem, mas que o "livre-arbítrio" dado aos homens é que porá o ponto final. Bom... se assim for, posso brincar de Deus também, já que posso influenciar as pessoas para fazerem o bem e também gero e possuo energia. Ou seja, o Catolicismo está em queda e Deus, para grande parte das pessoas, ficou impotente e relativizado, porém não se deram conta disso. Sua definição é, a cada dia que passa, mais vaga, subjetiva, sem unidade e dotada de poderes medíocres.
A verdade é que a ciência causou uma cisão tal na religião que o que há, é um caminho sem volta. Cisão que tende a cada dia ser mais profunda e espessa. Como crer em Adão e Eva com o evolucionismo mais do que comprovado? Já ouvi por ai que "Adão e Eva são uma metáfora", que são um "sentido figurado", uma "representação". Talvez hoje essa reinterpretação seja aceita facilmente entre os jovens, mas não foi assim para a maioria de nossos antepassados que acreditaram nos dogmas cegamente.
Sim. É extremamente necessário questionar, desmistificar, rever e reformular. A sociedade é isso: dinamismo. E a ciência é essencialmente revisionista. Está sempre se desconstruindo e reformulando, abrindo espaço para novos conhecimentos, expandindo e revolucionando. Esta é a sua principal diferença, na ciência não há uma verdade absoluta. É uma busca incessante pelo saber e pelo bem-estar humano, sempre aprimorando-se.
Como tudo tem consequências, não devemos nos assustar se em um futuro próximo, com o percorrer desta jornada científica, percebermos que estamos sozinhos e que somos nós os responsáveis por tudo aqui nesta vida, de ruim e de bom, sem interferências ou influências, desde o início da civilização e por todo o resto adiante.

Richard Rorty

"A convicção realista de que deve haver uma autoridade não-humana à qual os homens podem recorrer tem sido, por longo tempo, entremeada ao senso comum do Ocidente. É uma convicção comum a Sócrates e Lutero, a cientistas naturais ateus que dizem amar a verdade e fundamentalistas que dizem amar a Cristo. Acho que seria uma boa ideia reinventar a rede de crenças e desejos compartilhados que compõem a cultura ocidental com o objetivo de nos livrarmos dessa convicção. "

Richard Rorty, Philosophical Papers, Vol. 4

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Contagem Regressiva

Pior dormir, melhor sonhar
No corpo que se quis entrelaçar
A boca que se quis tocar
O tempo que se quis gastar
Eterno não apenas o que durar
Vida efêmera, horas poucas
Por mais que as tenha
No eterno querer e correr
Consome-se o que de valioso há
Na paisagem que passa, na vitrine a fixar
Na eternidade do nada a se conquistar
Na obrigatoriedade do legar
O suor que se quis escorrer
Nas horas que se devia amar
O trabalho, o sucesso, o lar
O filho que se quis acariciar
O compromisso que não se atrasará
Dia qualquer do futuro que talvez não virá
Melhor viver, melhor sentir
Envelhece-se no suspiro a seguir
Uma aquarela a descolorir
Pior chorar, melhor sorrir
Fingir que o tempo não passa
Que tudo nessa vida é graça
E que por enquanto, não é hora de partir.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E num é que é?!


"O Brasil é o único país onde prostituta tem orgasmo, cafetão tem ciúmes, traficante é viciado e pobre é de direita."

(Tim Maia - Revista Veja em 1990)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Jesus

Quinto filho de uma pobre família, sem qualquer amparo, cresceu Jesus. Seus outros quatro irmãos tinham também nomes bíblicos devido à mãe, cristã fervorosa. Mesmo sem muita escolaridade e incentivo, o menino Jesus cresceu naquele ambiente violento e desprovido, com a curiosidade aguçada e acima da média dos outros jovens de sua idade.
Quando adolescente, muitas idéias lhe vinham à mente. Buscava respostas nos poucos livros que teve contato e nas poucas conversas que tivera com alguns adultos mais estudados do que ele. Intrigava-lhe o ser humano, egoísta e desumano. Acostumado com os tiros de arma de fogo, com a violência, com a polícia, com a morte que rondava cada esquina da favela onde morava, Jesus perdia a esperança nos homens e acreditava que eles realmente não sabem o que fazem. Ia à igreja e ouvia o padre. Em sua percepção, entendeu então, que tudo se resolveria em outra vida. Que esta vida é passageira e que para as pessoas de bom coração, está reservado um ótimo lugar no céu. Porém, Jesus queria uma vida boa aqui, na terra, com sua família e irmãos. Nada de promessas em outro mundo. Outro mundo este, que ele às vezes pensava não existir, pela obviedade de que ninguém que morreu, voltou para relatar. Jesus pensava, como poderia ele, um pobre garoto de favela, mudar a realidade do mundo. Se não fosse de todo ele, pelo menos a do seu bairro. Mas se ainda fosse demais, que mudasse a realidade da sua família... Pensara melhor... Lembrara do irmão mais velho que está na cadeia, da mãe que estava suspeitando de uma nova gravidez e de seu pai desempregado e alcoólatra. Achou melhor se conter e tentar mudar somente a própria vida, pois já seria um feito e tanto.
Jesus escutava a mãe várias vezes, repassando-lhe tudo que escutara nas missas. Mas todo aquele papo de esperança se desmanchava facilmente quando deitava em sua cama, olhava para o teto e pensava na vida. Pensou no tráfico, na religião e na morte. Esta última, às vezes lhe agradava. Soava-lhe um atalho. Já que a coisa se acertará em outra vida, melhor seria se adiantar. Sentia-se covarde, impotente, ignorante. Ouviu mais um tiro ao vento... Desesperou-se não pelo som que ouvia, mas pelo corpo que poderia estar caindo naquele momento. Em seguida, silêncio. Depois, vazio. Sentia que tinha que fazer algo. Não sabia o que. Pensara no futebol que tanto gostava e que por tantas vezes tirou jovens como ele da pobreza e elevou ao estrelato. Não se sentia um craque. Mas sonhava... A escola tinha sido abandonada para trabalhar. Nessa noite dormiu com cansaço mental por tanta reflexão.
Acordou. Era um dia como todos os outros e se viu entre escolhas reduzidas e complexas. Lembrou de um amigo que era espírita e que acreditava em reencarnação. “Este sim é feliz.” Queria Jesus, outra vida, outro lugar, outra época. Decidiu-se. Não teve dúvidas de que entre suas opções, o melhor era servir a Deus. Tornou-se fervoroso como a mãe e esperançoso como o padre. A angústia passou, o sol brilhou e a vida ficou mais leve. Passou a rezar horas por dia, todos os dias. Em pouco tempo, tinha convicção de que fizera a coisa certa e de que tudo se resolveria para ele... Em outra vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA

Ontem fui assistir a peça “Dois perdidos numa noite suja”.

E dois pode ser um...

Pode ser um artista da terra que nos enche de orgulho.

Pode ser um espetáculo.

Pode ser uma noite muito agradável.

Pode ser um trabalho formidável.

Mas dois, pode ser um reconhecido Plínio Marcos, o autor maldito.

Pode ser uma mesma sala Ceschiati, de antigas histórias e causos.

Pode ser eu e você. Pode ser todos nós.

"Dois"? Pode ter sido três, quatro, cinco, muitos. Mas foi Mauro, Vinicius, Leonardo, Marcelo...

Dois é mal morando na alma, cutucando a carne pra conquistar um pisante, aliás, um não, dois, o direito e o esquerdo. Pisante pra pisar em dois, três, que decidirem cruzar o caminho da gente ou pisante pra caminhar até a ultima estrada sem, pisar em nada... só deixando a vida passar.

Dois, não é matemática, mas ensina a subtrair o desanimo de não conseguir nada. Ensina a somar a vontade, a memória e a alegria de levemente se deixar ser o que você é. Não falo de dois espetáculos, falo de dois encontros, encontro do passado com o presente. Das lembranças com a total falta de certeza do futuro, e das duas almas leves que se deixaram relaxar, tomando um chopp e comendo uma pizza depois do espetáculo.

E "dois", então se tornou uma multidão inteira, mas volta pra casa dentro de mim.

Dois se abandonou em um, deixou a noite suja pra trás.... e começou a brilhar dentro de mim outra vez, porque estava perdida....mas me reencontrei outra vez.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

TUDO PODE SER SIMPLES

Tudo nessa vida pode ser demasiado simples.
E simples é básico. Não requer firulas, arabescos. Não tem exagero. Simples pode ser você. Pode ser um gesto, um teto, um pedaço, um objeto.
Simples pode ser a lua, a boa música, um domingo de preguiça na cama. Simples pode ser mascar chicletes, escovar os dentes, fazer pipi. Simples é o que não complica, simplifica e não pede explicação.
Simples é claro, objetivo, lúcido. Simples é menos, nunca é mais.Simples é amar de novo, dar a volta por cima, ser feliz! Simples é ter fé na vida, não duvidar.Simples é o dia-a-dia, o acordar e o entardecer.
É poder amar e saber perder, não sofrer. Simples é dividir, acompanhar, fazer crescer.Simples é tão simples, que facilmente você pode ser.
Simples não é ter é viver.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ensinamento para uma vida toda...

"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido." (Dalai Lama)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Conversa Brasileira

- Opa! E ai cara?! Viu o jornal hoje?
- Vi sim! Viu também? Aquele cara que matou a mãe né? Doidera...
- É... o pessoal tá sem noção mesmo. E o Big Brother ontem? Viu aquele cara lá? Tomara que ele ganha, ele é dos meus.
- Qual deles? Num assisti ontem não. Fui no show do Jorge e Mateus! Foi bom demais! Melhor dupla sertaneja que eu já vi! Os caras tocam muito!!! Uma voz...
- É mesmo? Bacana hein!! Eu num gosto muito de sertanejo não... prefiro algo mais agitado, mais dançante, tipo um funk, pagode e tal. É mais animado, a mulherada rebola! Bom pra caramba... vou te levar qualquer dia desses, você vai curtir. A gente bebe até cair e fica tudo de boa.
- Ah, vou sim!!! Vamo curtir demais! Mas aqui... E sua mulher e o seu filho, já estão trabalhando? Fiquei sabendo que estavam os dois desempregados...
- Pois é cara, tão parados ainda. Mas com fé tudo vai dar certo!
- Claro! A vida é assim mesmo. Mudando de assunto, você viu a posse do Obama lá nos EUA? Que coisa hein!! Deu gente demais pra ver o cara tomar posse! Povo a toa! Prestigiar político tomando posse... Coisa de americano mesmo. Eu num lembro nem em quem votei na última eleição, político é tudo igual. É tudo ladrão! Qualquer um que ganhar dá na mesma. É só corrupção! Bando de pilantra!
- Eu também já perdi as esperanças viu cara. Esse país não tem jeito. Ninguém tá nem aí pra nada. Os político quando chega lá em cima só querem o deles e esquece do povo.
- Nossa senhora, esse ônibus que num chega! Tô cansado de ficar em pé nesse ponto já e essa fila gigante, não vai dar pra sentar não.
- Ah bicho... na hora que ônibus chegar a gente dá um jeitinho, se você furar uma filinha e tal, ninguém vai reparar e você vai sentado.
- Boa! Vou fazer isso mesmo! Afinal, tô cansado, pô! Trabalhei o dia todo!!! E tô com essa sacola pesada aqui ainda.
- Com fé tudo vai dar certo... Tá trabalhando naquela empresa ainda?
- Tô sim. Mas tô saindo. Cansei. O pessoal só explora, você trabalha como um burro e não melhora nada. E vou levar no juiz, vou arrancar uma grana daquele povo ainda, pra eles deixar de ser besta.
- Faz isso mesmo! Deixa barato não cara! Também tô querendo um jeito de arrumar uma graninha fácil viu... Só não sei como ainda, mas vou dar um jeito. Vai me aparecer uma parada qualquer hora pra salvar minha pele.
- Preocupa com isso não. Se tiver de ser, vai ser. O que é seu tá guardado. Quando você menos esperar, aparece!
- Eu sei disso. Nem preocupo. Mas me fala aqui cara, seu irmão parou de encher a cara? Lembro da última vez, você me falou que ele tava bebendo até cair todo dia, parou no hospital. Melhorou?
- Mais ou menos. Virou evangélico. Depois de converter tá até melhorando. As vezes bebe ainda, mas num assume. Você sente o cheiro de cachaça, fala pra ele que ele bebeu e ele tem a cara mais lavada de negar e dispara a falar versículo da bíblia pra gente.
- Bebida é foda, mas com fé tudo vai dar certo. Pede pra Deus que ele atende. No final tudo dá certo, se no final não der certo, é porque não tá no final ainda. Sacou?
- Hahahaha! Virou filósofo agora?
- Pois é, tenho esse dom de sacar umas frases assim, que não são minhas, mas que cai bem. O pessoal da minha família adora! Tenho um sobrinho que tá até fazendo um caderninho com as frase minha que ele anota.
- Massa demais! Você é muito inteligente mesmo!!! Já saquei isso. Num tô falando porque você é meu amigo não. Você tem a manha... Olha só! Hoje nem vou pagar a passagem do meu bolso. A otária do caixa do supermercado ali me deu o troco a mais. Quando vi, meu olho até brilhou. Ela salvou minha cervejinha de hoje e se fudeu!
- Otária mesmo! E vai ter que pagar do bolso dela a diferença, pra aprender a fazer conta! Burra! Oh o ônibus aí cara! Aperta o passo e finge de bobo senão você vai em pé!
- Valeu cara! Já vou indo mesmo, tenho que dar um jeito de sentar. Tô vendo que a velhinha ali, vai sobrar. Ela não ralou o dia todo que nem eu, pode ir em pé só hoje. Azar o dela, é a vida! Pra um ganhar, outro tem que perder.
- Ah! Tô vendo que você é esperto! Já tá aprendendo filosofia também!!
- Pois é. O que a convivência faz com a gente, né?! Hahahaha. Bom... fui!! Fica na fé aí cara... Deixa eu correr senão velhinha senta...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Modéstia para quem precisa!

Conforme nosso famoso Dicionário Aurélio... “Modéstia: Ausência de vaidade; simplicidade, despretensão.” Ainda não descobri porque essa palavra soa tanta virtude para muitos. Por que falar de algo que não se é, quando verdadeiramente é? Em que ponto devemos abandonar o orgulho do que somos, nosso marketing pessoal, deixar de alimentar nosso ego, nossa auto-estima, para dar lugar a modéstia? Boa parte falaria em convencimento, presunção... Nos acusariam de gostar de atrair a atenção para nós, vaidosos que somos, gostamos de ser admirados... Há quem não goste? Na verdade, acho que há quem não pode! Não falo em se vangloriar, se gabar de algum dom, falo sobre assumir o que temos de bom. Por que boa parte das pessoas se constrange quando perguntadas sobre uma habilidade que possuem? A minoria delas responderia que é excelente naquilo que faz, mesmo que seja real. Talvez, não por não achar isso de si, mas porque a cultura é de que não é legal fazer isso. Temos que deixar que as pessoas façam por nós... Bobagem!
Porque temos que ser francos com as pessoas e não podemos ser francos com nossa própria essência? Medo de nos declararmos bons hoje e não sermos mais amanhã? Acontece! Ninguém é insuperável! Por melhor que você seja em alguma atividade, por mais peculiar que seja seu trabalho, por mais perfeito, sempre haverá gente disposta a lhe superar. Nada é eterno. A sociedade é dinâmica e os indivíduos extremamente competitivos. O fundamentalismo morreu! Por mais sábia que seja uma pessoa, sempre aparecerão outras mais sábias. Toda idéia, por mais brilhante que seja, recebe muitas críticas e um dia há de se tornar obsoleta.
Deixemos então de modéstia! Modéstia é para quem precisa dela. Pra quem tem medo, vergonha, fraqueza... É pra quem não tem certeza do que sabe, que não tem dimensão do dom que possui ou simplesmente não sabe “vender o peixe”!
E se não formos os melhores? Formos medianos? Não importa! Pois ainda sim temos nosso valor e muitos ainda nos tratarão com despeito e outros nos invejarão!
Amo as artes, odeio o mundo corporativo e a moda, sou indiferente ao futebol e tenho pavor de religião... Não sou a encarnação de Hendrix, mas minha guitarra é bem tocada! Não sirvo pra trabalhar em atendimento ao público de nenhum tipo ou classe, mesmo assim, me relaciono muito bem com as pessoas... Quando vejo muitos números e cálculos, meu estômago embrulha... Matemática, tô fora! Livros de auto-ajuda me irritam, são todos óbvios! Assumo que já fui mais criativo do que sou hoje... Tenho uma boa e diferenciada compreensão da sociedade na qual estou inserido. Fui autodidata em quase tudo que sei e sou um cara muito bacana pra se ter amizade... Falta de modéstia? Nada!!! Apenas sei das minhas qualidades e é delas que prefiro falar! Tenho muitos defeitos também, mas esses interessam somente a mim e a quem divide a mesma cama comigo. Para esta, quem quer que seja, nem preciso falar, meus defeitos estão expostos! Não os escondo e mesmo os tendo, consigo ser mais agradável que muita gente! Fazem parte de tudo que sou. Mas dentro do meu desvirtuamento, não está incluído a tal falta de modéstia, esta é charme. E se meu jeito incomoda, o problema é de quem está incomodado.
Ah! Ia me esquecendo de dizer, que também não ganhei nenhum prêmio por escrever nada, nem publiquei nenhum livro ou algo de peso que possa apresentar, mas um dia as pessoas lerão alguma obra minha, no mínimo interessante...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Resposta geral

Frequentemente, tenho que responder as mesmas perguntas de sempre quando manifesto a minha descrença em deuses, novenas, promessas, religiões e afins. Num ímpeto, me vem uma questão pós interrogatório a respeito da minha descrença: porque é tão absurdo não crer em deus?
Perguntas do tipo “que sentido tem sua vida?” ou “o que vai ser de você depois que morrer?”, acredito serem as mais comuns. É verdade que ser diferente, andar na contramão, gera certa repulsa. Mas a intolerância é demasiada. Poderia eu, fazer dezenas de perguntas também aos que creem, tão absurdas (ou não), e tão agressivas quanto as que me fazem. Poderia fazer a mesma cara de espanto quando me dizem que pagaram 10% do salário ao pastor. Mas não as faço, exceto quando a conversa está descambando com a insistente e infeliz argumentação da outra parte. Sou compreensivo e paciente com os que creem, mesmo com os mais fanáticos, pois eu já cri um dia. Não nasci ateu, aliás... Todos nós nascemos ateus, mas nossa família e a sociedade se encarregam de mudar essa natureza, não é?
Apesar da vontade em explicar meu posicionamento, percebo que poucas pessoas se esforçam para entender a simplicidade do meu ceticismo. Não se trata de querer dar ou não dar satisfações sobre mim. Discuto por um motivo que considero maior. Acredito que agindo assim, posso romper um pouco com o preconceito que há com o ateísmo na sociedade em que vivo e com as pessoas do meu cotidiano, afinal, ninguém vive isoladamente e não quero poupar palavras por não querer me expor ou para evitar julgamentos precipitados.
Além do impasse da finitude da vida humana, não há outro âmbito, onde a religião e a crença possam ser mais eficazes do que as ciências e os conhecimentos trazidos por esta para trazer esclarecimento. “O problema não é as ciências não responderem tudo, é a religião não responder nada”. Por isso a minha facilidade em lidar com uma vida sem deuses. Eu tenho as respostas que preciso. Definitivamente, não me importa o que vem depois da morte. Quero viver e ser feliz aqui e agora, neste mundo, nesta vida. Este posicionamento me faz viver como se não houvesse uma promoção com uma vida eterna no paraíso, onde reencontrarei todos os meus parentes falecidos, todos muito felizes, cercados de carneirinhos saltitantes e anjinhos tocando harpa. Não ajo na expectativa de recompensas póstumas, como se um deus estivesse lá em cima anotando tudo e somando os pontos, isso não é benevolência nem caridade. Recompensas são pagamentos e o que é feito de coração não se cobra. O que tem de bondoso em se dar um prato de comida ao faminto, quando o que se faz, é na esperança de que se está aproximando da “vida eterna”? Isso é um comportamento condicional. É uma troca. Muitos religiosos (pra não dizer a maioria), agem pela recompensa, sem a qual, não se moveriam em favor do próximo.
Não entrarei nos méritos que questionam e comprometem a existência de deus e nem o quanto é mero detalhe ter ou não uma religião, já que são temas extensos e complexos para uma maioria que se nega a esforçar para entender o que é o ateísmo. Também não escrevo nem falo para “desconverter” ninguém. Não tenho esse propósito. Na verdade, até prefiro que fiquem com suas crenças, desde que respeitem quem não as tem. Se estas são o motivo que as fazem pessoas de bem, independente da finalidade de seus atos, quero que continuem. Por outro lado, não seria mais fácil imaginar que se as pessoas fossem bondosas de verdade, provavelmente poderíamos fazer dessa própria vida um paraíso? Me preocupa mais o que abala a estrutura mundial hoje. Se a crise financeira ou a de consciência...