segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Conversa Brasileira

- Opa! E ai cara?! Viu o jornal hoje?
- Vi sim! Viu também? Aquele cara que matou a mãe né? Doidera...
- É... o pessoal tá sem noção mesmo. E o Big Brother ontem? Viu aquele cara lá? Tomara que ele ganha, ele é dos meus.
- Qual deles? Num assisti ontem não. Fui no show do Jorge e Mateus! Foi bom demais! Melhor dupla sertaneja que eu já vi! Os caras tocam muito!!! Uma voz...
- É mesmo? Bacana hein!! Eu num gosto muito de sertanejo não... prefiro algo mais agitado, mais dançante, tipo um funk, pagode e tal. É mais animado, a mulherada rebola! Bom pra caramba... vou te levar qualquer dia desses, você vai curtir. A gente bebe até cair e fica tudo de boa.
- Ah, vou sim!!! Vamo curtir demais! Mas aqui... E sua mulher e o seu filho, já estão trabalhando? Fiquei sabendo que estavam os dois desempregados...
- Pois é cara, tão parados ainda. Mas com fé tudo vai dar certo!
- Claro! A vida é assim mesmo. Mudando de assunto, você viu a posse do Obama lá nos EUA? Que coisa hein!! Deu gente demais pra ver o cara tomar posse! Povo a toa! Prestigiar político tomando posse... Coisa de americano mesmo. Eu num lembro nem em quem votei na última eleição, político é tudo igual. É tudo ladrão! Qualquer um que ganhar dá na mesma. É só corrupção! Bando de pilantra!
- Eu também já perdi as esperanças viu cara. Esse país não tem jeito. Ninguém tá nem aí pra nada. Os político quando chega lá em cima só querem o deles e esquece do povo.
- Nossa senhora, esse ônibus que num chega! Tô cansado de ficar em pé nesse ponto já e essa fila gigante, não vai dar pra sentar não.
- Ah bicho... na hora que ônibus chegar a gente dá um jeitinho, se você furar uma filinha e tal, ninguém vai reparar e você vai sentado.
- Boa! Vou fazer isso mesmo! Afinal, tô cansado, pô! Trabalhei o dia todo!!! E tô com essa sacola pesada aqui ainda.
- Com fé tudo vai dar certo... Tá trabalhando naquela empresa ainda?
- Tô sim. Mas tô saindo. Cansei. O pessoal só explora, você trabalha como um burro e não melhora nada. E vou levar no juiz, vou arrancar uma grana daquele povo ainda, pra eles deixar de ser besta.
- Faz isso mesmo! Deixa barato não cara! Também tô querendo um jeito de arrumar uma graninha fácil viu... Só não sei como ainda, mas vou dar um jeito. Vai me aparecer uma parada qualquer hora pra salvar minha pele.
- Preocupa com isso não. Se tiver de ser, vai ser. O que é seu tá guardado. Quando você menos esperar, aparece!
- Eu sei disso. Nem preocupo. Mas me fala aqui cara, seu irmão parou de encher a cara? Lembro da última vez, você me falou que ele tava bebendo até cair todo dia, parou no hospital. Melhorou?
- Mais ou menos. Virou evangélico. Depois de converter tá até melhorando. As vezes bebe ainda, mas num assume. Você sente o cheiro de cachaça, fala pra ele que ele bebeu e ele tem a cara mais lavada de negar e dispara a falar versículo da bíblia pra gente.
- Bebida é foda, mas com fé tudo vai dar certo. Pede pra Deus que ele atende. No final tudo dá certo, se no final não der certo, é porque não tá no final ainda. Sacou?
- Hahahaha! Virou filósofo agora?
- Pois é, tenho esse dom de sacar umas frases assim, que não são minhas, mas que cai bem. O pessoal da minha família adora! Tenho um sobrinho que tá até fazendo um caderninho com as frase minha que ele anota.
- Massa demais! Você é muito inteligente mesmo!!! Já saquei isso. Num tô falando porque você é meu amigo não. Você tem a manha... Olha só! Hoje nem vou pagar a passagem do meu bolso. A otária do caixa do supermercado ali me deu o troco a mais. Quando vi, meu olho até brilhou. Ela salvou minha cervejinha de hoje e se fudeu!
- Otária mesmo! E vai ter que pagar do bolso dela a diferença, pra aprender a fazer conta! Burra! Oh o ônibus aí cara! Aperta o passo e finge de bobo senão você vai em pé!
- Valeu cara! Já vou indo mesmo, tenho que dar um jeito de sentar. Tô vendo que a velhinha ali, vai sobrar. Ela não ralou o dia todo que nem eu, pode ir em pé só hoje. Azar o dela, é a vida! Pra um ganhar, outro tem que perder.
- Ah! Tô vendo que você é esperto! Já tá aprendendo filosofia também!!
- Pois é. O que a convivência faz com a gente, né?! Hahahaha. Bom... fui!! Fica na fé aí cara... Deixa eu correr senão velhinha senta...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Modéstia para quem precisa!

Conforme nosso famoso Dicionário Aurélio... “Modéstia: Ausência de vaidade; simplicidade, despretensão.” Ainda não descobri porque essa palavra soa tanta virtude para muitos. Por que falar de algo que não se é, quando verdadeiramente é? Em que ponto devemos abandonar o orgulho do que somos, nosso marketing pessoal, deixar de alimentar nosso ego, nossa auto-estima, para dar lugar a modéstia? Boa parte falaria em convencimento, presunção... Nos acusariam de gostar de atrair a atenção para nós, vaidosos que somos, gostamos de ser admirados... Há quem não goste? Na verdade, acho que há quem não pode! Não falo em se vangloriar, se gabar de algum dom, falo sobre assumir o que temos de bom. Por que boa parte das pessoas se constrange quando perguntadas sobre uma habilidade que possuem? A minoria delas responderia que é excelente naquilo que faz, mesmo que seja real. Talvez, não por não achar isso de si, mas porque a cultura é de que não é legal fazer isso. Temos que deixar que as pessoas façam por nós... Bobagem!
Porque temos que ser francos com as pessoas e não podemos ser francos com nossa própria essência? Medo de nos declararmos bons hoje e não sermos mais amanhã? Acontece! Ninguém é insuperável! Por melhor que você seja em alguma atividade, por mais peculiar que seja seu trabalho, por mais perfeito, sempre haverá gente disposta a lhe superar. Nada é eterno. A sociedade é dinâmica e os indivíduos extremamente competitivos. O fundamentalismo morreu! Por mais sábia que seja uma pessoa, sempre aparecerão outras mais sábias. Toda idéia, por mais brilhante que seja, recebe muitas críticas e um dia há de se tornar obsoleta.
Deixemos então de modéstia! Modéstia é para quem precisa dela. Pra quem tem medo, vergonha, fraqueza... É pra quem não tem certeza do que sabe, que não tem dimensão do dom que possui ou simplesmente não sabe “vender o peixe”!
E se não formos os melhores? Formos medianos? Não importa! Pois ainda sim temos nosso valor e muitos ainda nos tratarão com despeito e outros nos invejarão!
Amo as artes, odeio o mundo corporativo e a moda, sou indiferente ao futebol e tenho pavor de religião... Não sou a encarnação de Hendrix, mas minha guitarra é bem tocada! Não sirvo pra trabalhar em atendimento ao público de nenhum tipo ou classe, mesmo assim, me relaciono muito bem com as pessoas... Quando vejo muitos números e cálculos, meu estômago embrulha... Matemática, tô fora! Livros de auto-ajuda me irritam, são todos óbvios! Assumo que já fui mais criativo do que sou hoje... Tenho uma boa e diferenciada compreensão da sociedade na qual estou inserido. Fui autodidata em quase tudo que sei e sou um cara muito bacana pra se ter amizade... Falta de modéstia? Nada!!! Apenas sei das minhas qualidades e é delas que prefiro falar! Tenho muitos defeitos também, mas esses interessam somente a mim e a quem divide a mesma cama comigo. Para esta, quem quer que seja, nem preciso falar, meus defeitos estão expostos! Não os escondo e mesmo os tendo, consigo ser mais agradável que muita gente! Fazem parte de tudo que sou. Mas dentro do meu desvirtuamento, não está incluído a tal falta de modéstia, esta é charme. E se meu jeito incomoda, o problema é de quem está incomodado.
Ah! Ia me esquecendo de dizer, que também não ganhei nenhum prêmio por escrever nada, nem publiquei nenhum livro ou algo de peso que possa apresentar, mas um dia as pessoas lerão alguma obra minha, no mínimo interessante...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Resposta geral

Frequentemente, tenho que responder as mesmas perguntas de sempre quando manifesto a minha descrença em deuses, novenas, promessas, religiões e afins. Num ímpeto, me vem uma questão pós interrogatório a respeito da minha descrença: porque é tão absurdo não crer em deus?
Perguntas do tipo “que sentido tem sua vida?” ou “o que vai ser de você depois que morrer?”, acredito serem as mais comuns. É verdade que ser diferente, andar na contramão, gera certa repulsa. Mas a intolerância é demasiada. Poderia eu, fazer dezenas de perguntas também aos que creem, tão absurdas (ou não), e tão agressivas quanto as que me fazem. Poderia fazer a mesma cara de espanto quando me dizem que pagaram 10% do salário ao pastor. Mas não as faço, exceto quando a conversa está descambando com a insistente e infeliz argumentação da outra parte. Sou compreensivo e paciente com os que creem, mesmo com os mais fanáticos, pois eu já cri um dia. Não nasci ateu, aliás... Todos nós nascemos ateus, mas nossa família e a sociedade se encarregam de mudar essa natureza, não é?
Apesar da vontade em explicar meu posicionamento, percebo que poucas pessoas se esforçam para entender a simplicidade do meu ceticismo. Não se trata de querer dar ou não dar satisfações sobre mim. Discuto por um motivo que considero maior. Acredito que agindo assim, posso romper um pouco com o preconceito que há com o ateísmo na sociedade em que vivo e com as pessoas do meu cotidiano, afinal, ninguém vive isoladamente e não quero poupar palavras por não querer me expor ou para evitar julgamentos precipitados.
Além do impasse da finitude da vida humana, não há outro âmbito, onde a religião e a crença possam ser mais eficazes do que as ciências e os conhecimentos trazidos por esta para trazer esclarecimento. “O problema não é as ciências não responderem tudo, é a religião não responder nada”. Por isso a minha facilidade em lidar com uma vida sem deuses. Eu tenho as respostas que preciso. Definitivamente, não me importa o que vem depois da morte. Quero viver e ser feliz aqui e agora, neste mundo, nesta vida. Este posicionamento me faz viver como se não houvesse uma promoção com uma vida eterna no paraíso, onde reencontrarei todos os meus parentes falecidos, todos muito felizes, cercados de carneirinhos saltitantes e anjinhos tocando harpa. Não ajo na expectativa de recompensas póstumas, como se um deus estivesse lá em cima anotando tudo e somando os pontos, isso não é benevolência nem caridade. Recompensas são pagamentos e o que é feito de coração não se cobra. O que tem de bondoso em se dar um prato de comida ao faminto, quando o que se faz, é na esperança de que se está aproximando da “vida eterna”? Isso é um comportamento condicional. É uma troca. Muitos religiosos (pra não dizer a maioria), agem pela recompensa, sem a qual, não se moveriam em favor do próximo.
Não entrarei nos méritos que questionam e comprometem a existência de deus e nem o quanto é mero detalhe ter ou não uma religião, já que são temas extensos e complexos para uma maioria que se nega a esforçar para entender o que é o ateísmo. Também não escrevo nem falo para “desconverter” ninguém. Não tenho esse propósito. Na verdade, até prefiro que fiquem com suas crenças, desde que respeitem quem não as tem. Se estas são o motivo que as fazem pessoas de bem, independente da finalidade de seus atos, quero que continuem. Por outro lado, não seria mais fácil imaginar que se as pessoas fossem bondosas de verdade, provavelmente poderíamos fazer dessa própria vida um paraíso? Me preocupa mais o que abala a estrutura mundial hoje. Se a crise financeira ou a de consciência...