sexta-feira, 31 de julho de 2009

Só para esclarecer...

"A Ciência é fundamentada na idéia de que tudo o que sabemos sobre a natureza pode, em princípio, ser rejeitado caso esse conhecimento não passe pelos testes da observação e da experiência. Assim, toda teoria científica deve passar pelo escrutínio da comunidade científica. Testes e mais testes são feitos com o objetivo de avaliar se predicações de uma dada teoria são corretas ou não. Por mais estabelecida que seja uma teoria científica, ela está constantemente sujeita a novos testes e novas descobertas que podem confirmá-la ou falseá-la. Mesmo teorias amplamente conhecidas e estabelecidas, como a teoria da relatividade de Einstein, até hoje têm suas predições testadas. Continuamente, toda teoria é reavaliada à luz de novos dados e fatos observados na natureza. Uma dada teoria pode, então, ser modificada para acomodar esses dados ou simplesmente descartada, caso não seja mais sustentada pelo que sabemos sobre a natureza."

Trecho extraído de "A Goleada de Darwin", de Sandro de Souza.

sábado, 25 de julho de 2009

"Um por todos e todos por um"

Disse o filósofo francês Joseph De Maistre (1753-1821): "Cada povo tem o Governo que merece". Nada mais sábio! Todavia, não é o que parece quando conversamos com as pessoas por aí sobre a política. Em sua grande maioria, o povo, parece crer que o congresso é uma espécie de sociedade a parte, como se esta não saísse do mesmo lugar de onde todos saíram. Muitos se esquecem, que os eleitos um dia também foram povo, um dia também elegeram, estudaram nas mesmas escolas que muitos e vêem de famílias tipicamente brasileiras. Ou seja, são frutos de uma mesma cultura e a política que estes fazem, é reflexo de seu meio.
Cultura esta, de gente que valoriza a “esperteza”, que acha bonito ser malandro e que sempre “dá um jeitinho” pra tudo. Cultura de gente que paga outra pra ficar na fila para assegurar um lugar. Gente que “fura fila”, que dá uma grana pro guarda liberar da multa, que fica calado quando recebe um troco a mais no comércio, que finge de bobo quando a conta vem menor em um barzinho. Gente que se sente tranquila para falsificar a assinatura do colega de sala para tirar uma nota melhor na prova, que finge estar dormindo quando um idoso entra no ônibus e quer sentar no lugar que lhe é reservado. Só não vê isso por todos os lados quem não sai de casa.
Livrem-me do argumento: “você não pode generalizar”. Posso sim! Não porque todos, sem exceção, fazem isso, mas porque uma parte muito grande das pessoas o faz sem nenhum peso na consciência e a outra parte permite, de forma tácita, como se não fosse problema delas, corrobora o comportamento dos outros. “O problema não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons.” Ser indiferente a tudo isso não justifica nem exime; consente. Alguém duvida, que em uma reunião, palestra ou evento com grande número de pessoas, em que os organizadores forneça em uma mesa, exatamente um pão como lanche para cada um, no final, os que ficarem por último correrão sério risco de ficarem sem o lanche? Quem é que, sabendo que tem um lanche para cada, não corre para pegar o seu pão com receio de ficar sem? A sensação é sintomática.
Esse é o maior problema no Brasil. Não é a pobreza, nem o Congresso, nem o Judiciário, nem os impostos ou a violência. É a educação. Digo, a educação moral e ética, coisa que não se aprende na escola nem na rua. É um problema de consciência, coisa rara por aqui. Qual a diferença entre roubar um chocolate na mercearia ou no bar e roubar um milhão de reias dos cofres públicos? Propocionalmente, o prejuízo aos proprietários é comparável .
Pensemos bem em nossas ações, em nossas escolhas e em nossas palavras, para que não fiquemos procurando culpados e nos esqueçamos de quem é que está construindo essa sociedade. A sensação é de nadar contra a correnteza, eu sei. Mas virar as costas não resolve o impasse. Comportar-se normalmente numa sociedade doente, não é sinônimo de saúde. Depois não vá reclamar, nem do espertinho que entrou na sua frente na fila, nem do deputado que constrói castelo com dinheiro do povo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Show de audiência: horror, gozo e medo na TV

"Os meios de comunicação, especialmente aqueles que se aproveitam dos mecanismos sensacionalistas de exposição das mazelas sociais, exploram a elevação dos níveis de audiência por meio dos estímulos estéticos fortes proporcionados pela exibição de cenas violentas, que exercem sobre a afetividade humana um impacto ambíguo: ao mesmo tempo em que geram a repugnância, geram também o desejo de contemplação do horror. A sociedade da informação, na era pós-moderna, continua sectária da 'concupiscência do olhar'. Da mesma forma que um desastre desperta a curiosidade do indivíduo que se encontra próximo ao local desse acontecimento fatídico e vai ver todos os detalhes possíveis, assim também se dá quando os desastres são transpostos para as imagens da televisão. O máximo de prazer estético que pode ser fornecido ao telespectador por uma rede de TV é a exibição da morte de um indivíduo, ou, em circunstâncias mais atenuadas, dos conflitos entre as forças policiais e os criminosos, as ações de assaltantes, ou ainda as gravações secretas de repórteres sobre as vendas de drogas por traficantes. Em todas essas circunstâncias há no telespectador a erupção da repugnância, do horror e da lamentação, mas também um gozo secreto de prazer pela oportunidade que lhe é concedida de ver, sentado confortavelmente na poltrona, a destruição humana em múltiplas maneiras. O resultado existencial dessa soma de imagens, todavia, não tarda a aparecer, e é o medo."

(Renato Nunes Bittencourt - Doutorando em Filosofia pelo programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Em um futuro não muito distante...

Mesmo com uma ala radical da Igreja Católica apoiada pelo Papa Bento XVI (que de bento não vejo nada) tornando-se mais evidente com a posse deste, ainda sim, o que se vê há tempos, no Brasil e em boa parte do Ocidente, é uma decadência do Catolicismo. Me pergunto se o meu meio poderia causar-me uma falsa impressão. Creio que não. Tido como o maior país católico do mundo, o Brasil apresenta uma sociedade religiosa interessante: perdida ideologicamente e dotada de seguidores tão perdidos quanto.
Primeiramente, gostaria de saber definidamente o que é um "católico-não-praticante". Como funciona isso? O título dado parece ser claro. A meu ver, nem tanto. O que é pertencer a um grupo ou comunidade religiosa da qual não comungo as mesmas atitudes, doutrinas, dogmas e comportamentos? Comparo a um torcedor de futebol, mas que não vai ao estádio, não assiste aos jogos do seu time, nem acompanha placares, resultados, campeonatos e etc. Que tipo de torcedor é esse? Em que ele colabora para o seu time e o que o time pode esperar dele? O "católico-não-praticante" é para a Igreja o mesmo que esse torcedor para o seu time. Nada! Ele apenas faz números, pois se perguntado sobre sua religião, ele se afirmará católico, mesmo tendo ido à igreja pela última vez há 3 anos atrás para um casamento de um amigo. Caso este "fiel" tenha um filho, o batizará também conforme a tradição e apenas fará mais números. E para piorar (ou melhorar), vejo que os católicos-não-praticantes são maioria! Duvida? Olhe a sua volta, no trabalho, na escola, na família, quantos se intitulam católicos e frequentam regularmente a igreja. Não se espante se for apenas alguns. Percebe-se nitidamente a diferença, a nível de devoção, dos evangélicos, espíritas e outros religiosos para os católicos.
Outro tipo de católico não menos interessante, é o "católico-x-tudo", que também tem sido cada vez mais comum na sociedade moderna brasileira: ele possui cristais e outros artefatos para atrair a "boa energia" e afastar o "mau-olhado", acende uma vela para os Orixás na sexta-feira, não come carne vermelha na sexta-feira santa, acredita que já esteve neste planeta em vidas passadas, faz simpatias, benzeções e não abre mão da missa católica aos domingos pela manhã. "Católico Apostólico Baiano", entitulou Rey Biannchi.
Ironias a parte, acho que ninguém discorda que nossos avós eram mais fiéis ideologicamente quanto participativos no que se diz respeito a religião católica.
Alguns poderiam me perguntar, "mas que mal tem isso?". E eu diria: Todo! (Não para mim, mas para o Catolicismo). Isso se deve a perda de unidade e de sustentação do argumento religioso diante do momento histórico em que vivemos, onde a ciência avança a passos largos e cada um quer fundar sua própria crença, sua maneira de orar, se agarrar onde puder e criar seu próprio Deus. Pra alguns poucos, ele ainda é o Deus bíblico, onipotente, onipresente e onisciente. Para outros, é uma "energia", um "ente indefinido"... Para alguns, ele existe, mas não mata nem salva ninguém. Já ouvi dizer que ele apenas "influencia" na vida das pessoas para que elas sigam o caminho do bem, mas que o "livre-arbítrio" dado aos homens é que porá o ponto final. Bom... se assim for, posso brincar de Deus também, já que posso influenciar as pessoas para fazerem o bem e também gero e possuo energia. Ou seja, o Catolicismo está em queda e Deus, para grande parte das pessoas, ficou impotente e relativizado, porém não se deram conta disso. Sua definição é, a cada dia que passa, mais vaga, subjetiva, sem unidade e dotada de poderes medíocres.
A verdade é que a ciência causou uma cisão tal na religião que o que há, é um caminho sem volta. Cisão que tende a cada dia ser mais profunda e espessa. Como crer em Adão e Eva com o evolucionismo mais do que comprovado? Já ouvi por ai que "Adão e Eva são uma metáfora", que são um "sentido figurado", uma "representação". Talvez hoje essa reinterpretação seja aceita facilmente entre os jovens, mas não foi assim para a maioria de nossos antepassados que acreditaram nos dogmas cegamente.
Sim. É extremamente necessário questionar, desmistificar, rever e reformular. A sociedade é isso: dinamismo. E a ciência é essencialmente revisionista. Está sempre se desconstruindo e reformulando, abrindo espaço para novos conhecimentos, expandindo e revolucionando. Esta é a sua principal diferença, na ciência não há uma verdade absoluta. É uma busca incessante pelo saber e pelo bem-estar humano, sempre aprimorando-se.
Como tudo tem consequências, não devemos nos assustar se em um futuro próximo, com o percorrer desta jornada científica, percebermos que estamos sozinhos e que somos nós os responsáveis por tudo aqui nesta vida, de ruim e de bom, sem interferências ou influências, desde o início da civilização e por todo o resto adiante.

Richard Rorty

"A convicção realista de que deve haver uma autoridade não-humana à qual os homens podem recorrer tem sido, por longo tempo, entremeada ao senso comum do Ocidente. É uma convicção comum a Sócrates e Lutero, a cientistas naturais ateus que dizem amar a verdade e fundamentalistas que dizem amar a Cristo. Acho que seria uma boa ideia reinventar a rede de crenças e desejos compartilhados que compõem a cultura ocidental com o objetivo de nos livrarmos dessa convicção. "

Richard Rorty, Philosophical Papers, Vol. 4