quinta-feira, 1 de julho de 2010

Subjetividade

No direito é assim: se um sujeito mata alguém dolosamente e vai a julgamento, depois de tudo provado nos mínimos detalhes, defesa, tribunal do juri e blá blá blá, o juiz decide e profere uma sentença condenatória. Sem levar em consideração agravantes e atenuantes, a pena base disposta no art. 121 do Código Penal Brasileiro, dá ao juiz uma margem para condenar o réu entre 6 a 20 anos de reclusão. O que é que determinará se o juiz dará ao sujeito 6, 10, 12 ou 15 anos de prisão? Em tese, são as circunstâncias do crime, que podem ser várias (quem tiver curiosidade de saber quais são, leia no próprio Código Penal pois o objetivo do texto não é esse). Mas outro detalhe também contribuirá muito para influenciar o tempo de pena arbitrado por este juiz: seus valores morais. Entre outras palavras, a pena irá variar não apenas baseada em dispositivos legais, mas também no que o juiz entende por ser grave ou não, o que merece ser punido mais severamente ou não, no que é mais relevante para a sociedade no âmbito moral ou não. Assim sendo, não é preciso entrar no mérito de que neste aspecto não há um consenso. Acredito que ninguém duvide que, em uma causa complexa julgada por 10 juizes diferentes, provavelmente não teremos 10 sentenças iguais. Em uma lógica inversa, se todos os 10 juizes aplicassem exatamente a mesma pena ao réu, poderíamos dizer que estamos muito próximos de ter julgadores sem subjetividade, já que todos eles, sem consultarem uns aos outros, chegaram a mesma conclusão. Seria ótimo! Seria como se uma ciência humana soasse ciência exata! Um parâmetro ideal de justiça poderia estar sendo estabelecido a partir daí. Isso é coisa que não acontece, obviamente. Mas é um ideal que a "ciência jurídica" não deve deixar de perseguir a cada jurisprudência, súmula ou reforma em nossa lei.
Depois de ilustrado, tal raciocínio não seria muito diferente se aplicado aos recrutamentos feitos pelo pessoal dos Recursos Humanos (RH). Vamos lá... Temos uma empresa que disponibiliza uma vaga para um certo cargo. Esta, por sua vez, contrata um RH para fazer a seleção do cadidato a preencher o cargo e descreve todo o perfil que este deverá ter, que por sua vez pode ser bem variado: comunicativo, persuasivo, responsável, boa aparência, habilidade para trabalhar sob pressão (já vi isso em anúncio de emprego! Incrível!), enfim, vários são os traços profissionais que podem ser sugeridos por uma empresa e mais numerosos ainda são encontrados nos cadidatos. Daí, as dezenas de pessoas são postas, uma a uma, diante de um piscólogo, que dentre todas elas escolherá qual o candidato é o mais comunicativo, persuasivo, responsável, bem aparentado e que parece ser habilidoso para trabalhar sob pressão. Bem... Acredito que este psicólogo está mais enrolado e à mercê de sua subjetividade do que o juiz do exemplo anterior. Ou alguém acredita que se esta mesma empreitada for dada a 10 empresas de RH diferentes todas escolherão o mesmo candidato? Isso sem falar nos métodos duvidosos utilizados pelos psicólogos de RH para afirmar, depois de uma entrevista de 10 minutos com cada candidato, qual deles preenche melhor todos os requisitos repassados pela empresa que disponibilizou a vaga.
Não é nenhuma novidade, mas é bom deixar claro que a psicologia trabalha, na maioria dos casos, com a indução. Na indução, empiricamente, uma baixa amostragem de pessoas é submetida a certa situação, onde percebidas as reações, aplica-se o resultado a todas as pessoas de uma forma geral. É como se fosse uma "estatística", mas que não pode ter muitas variáveis, do contrário, como definir com qual tipo de pessoa estou lidando? Não pode haver uma pluralidade. Por isso, não raramente, pesquisas por amostragem se mostram inexatas e questionáveis tanto quanto ineficientes. Um bom exemplo do que é o método indutivo são as pesquisas em campanhas políticas. Colhe-se a opinião de cerca de 5 mil pessoas e projetando os resultados, tem-se a opinião dos milhões de eleitores brasileiros. Fácil, não?!
Mas no fundo mesmo - pra não prolongar demais a retórica - tudo isso que foi dito nestas rápidas linhas acima foi apenas para levar a mensagem: Não se chateie quando for eliminado em um processo de seleção no qual o psicólogo lhe perguntou: "Se você não fosse um ser humano, qual animal gostaria de ser?" E você sinceramente respondeu: "Um pássaro!" Pode ser que lhe bata um certo remorso, como no meu caso, do tipo, "deveria ter falado que gostaria de ser um cachorro, que é o melhor amigo do homem ou um macaco, que é mais inteligente", mas na verdade, o psicólogo não sabe porque você gostaria de ser um pássaro e nem você sabe o que é que ele pensa sobre os cachorros ou macacos. Não dá pra analisar pessoas como se faz contas na calculadora ou seguindo uma "tabelinha comportamental". Ou seja, é loteria! Então, boa sorte se for participar de uma entrevista com o pessoal do RH!!!