quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Consultório bíblico

Laura Schlessinger é uma conhecida locutora de rádio nos Estados Unidos. Ela tem um desses programas interativos que dá respostas e conselhos aos ouvintes que a chamam ao telefone. Recentemente, perguntada sobre a homossexualidade, a locutora disse que se trata de uma abominação, pois assim a Bíblia o afirma no livro de Levítico 18:22. Um ouvinte escreveu-lhe então uma carta que vou transcrever:
“Querida Dra. Laura: Muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segundo a Lei de Deus. Eu mesmo tenho aprendido muito no seu programa de rádio e desejo compartilhar meus conhecimentos com o maior número de pessoas possível. Por exemplo, quando alguém se põe a defender o estilo homossexual de vida, eu me limito a lembrar-lhe que o livro de Levítico, no capítulo 18, versículo 22, estabelece claramente que a homossexualidade é uma abominação. E ponto final... Mas, de qualquer forma necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas concretamente e sobre a forma de cumpri-las:
Gostaria de vender minha filha como serva, tal como o indica o livro de Êxodo, 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?
O livro de Levítico 25:44, estabelece que posso possuir escravos tanto homens quanto mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Por que não posso possuir canadenses?
Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Levítico 18:19, 20:18, etc.). O problema que se me coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas.
Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo 35:2 claramente estabelece que quem trabalha nos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?
No livro de Levítico, 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Preciso confessar que eu preciso de óculos para ver. Minha acuidade visual tem de ser 100% pra que eu me aproxime do altar de Deus? Será que se pode abrandar um pouco essa exigência?
A maioria dos meus amigos homens tem o cabelo bem cortado, muito embora isto esteja claramente proibido em Levítico 19:27. Como é que eles devem morrer?
Eu sei, graças a Levítico 11:6-8, que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. Acontece que adoro jogar futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que será me permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?
Meu tio tem uma granja. Deixa de cumprir o que diz Levítico 19:19, pois planta dois tipo diferentes de sementes no mesmo campo, e também deixar de cumprir a sua mulher, que usa roupas de dois tecidos diferentes, a saber, algodão e poliéster. Além disso, ele passa o dia proferindo blasfêmias e maldizendo. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-los? Não poderíamos adotar um procedimento mais simples, qual seja, o de queimá-los numa reunião privada, como se faz com um homem que dorme com a sua sogra, ou uma mulher que dorme com o seu sogro (Levítico 20:14). Sei que a senhora estudou esses assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda. Obrigado de novo por recordar-nos que a Palavra de Deus é eterna e imutável.”

Extraído da Obra "Ostra Feliz não Faz Pérola", de Rubem Alves.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Viva Cuba!!!

Acho que a admiração que tenho pelo modelo socialista não é novidade para ninguém que me conhece. Desta forma, não poderia deixar de postar aqui o melhor comentário que li essa semana!
Foi retirado do blog do Estadão, na seção de artigos do Marcos Guterman que, apesar de ser um direitista conservador e burguês (será que incorri em algum pleunasmo?), escreve comentários, resenhas e notas muito interessantes e por vezes hilárias, como no caso abaixo:

Com o slogan “Há um soldado em cada um de nós”, foi lançada nesta quarta-feira a mais nova versão do videogame Call of Duty. A primeira das “operações clandestinas” dos EUA da qual o jogador é convidado a participar é matar Fidel Castro.
A ditadura cubana, por meio do site Cubadebate, não tardou a ironizar: “O que o governo americano não conseguiu realizar em mais de 50 anos pretende fazer agora de modo virtual”.

É como disse meu amigo Evandro: "são os desejos reprimidos do inconsciente dando vasão pela fibra ótica"! rsrs

Leia também: O Bom do Ruim


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A ANGUSTIA DO LIVRE ARBITRIO

Posto que, somos seres desconectado com o planeta mãe (Terra) assim como os outros animais existentes e ambulantes desse mundo, não nos cabe dizer se somos livres ou não. Dado que, todos juntos estamos presos nesse universo, tudo leva a crer que somos livre. Mas indo mais além, nos confins da nossa galáxia, estamos todos no mesmo barco.
O Bebê não tem escolha a não ser tomar o leite do peito da mãe. Quem poderá escolher por ele é a própria mãe. O cachorro no entanto sabe escolher entre a carne podre e a carne saudável e a ele não foi conferido nenhum ensinamento a não ser pelo sentido do ofato, que no caso dele é bem apurado. Temos aí então, a interferência do sentido na hora da opção.
Se quero escolher entre a calça jeans e a social o meu sentido da visão que julgará. Se quero escolher entre o doce e o salgado, quem julgará é o meu paladar. Há quem diz que os olhos também julgam a comida, tem gente que não come jabuticaba porque imagina cocô de cabrito. Na música o melhor pulso+harmonia ganha a eleição no caso do DJ. E no sexo, o tato leva de bandeija a pele mais gostosa. Afinal a maioria prefere o homem ou mulher gostoso(a) à qualquer um dos dois pesando 180 kilos mas com um rosto divino.
Temos que levar em conta os sentidos no livre-arbítrio. Naquele momento, pois o livre-arbítrio é um sentimento hipócrita e a todo momento está mudando. Hoje não gosto de Funk (Lê-se; Funqui - de acordo com meu amigo Léo) rs rs. Mas quem sabe amanhã posso me apaixonar por uma garota que gosta e eu passe a gostar também.
Em resumo o livre-arbítrio está ligado com os sentidos e com o momento. Se está ligado com os sentidos, voltaremos para René Decartes que nos diz que estamos presos ao sentidos. De fato ele está certo. Se quero maça meu paladar mandou que eu escolhesse maça. Se quero ouvir Mozart minha audição mandou que eu ouvisse Mozart. E assim vai.
Mas se formos levar tudo isso para o lado místico da religião, que é onde me encontro, acredito que nossos desejos realmente estão ligados a algo místico. No fundo de nosso corpo, o que chamamos de alma, da qual abrirei um parágrafo para mostrar a minha interpretação de alma;
No mínimo do nosso corpo, até onde pode ir o maior microscópio, aquele microscópio que Stephen Hawkings disse que precisaria ser maior que o sistema solar para sondar a menor particula do mundo, pois é, com ele. No limite dele, onde não se vê mais nada dentro de nós, após o lepton e outras partículas menores que acharam bem depois do átomo, é onde se encontra a nossa alma. Onde nada encosta em nada e só se vê escuridão. Onde atua a física quântica. Nessa unidade de tempo, onde tudo pode ser mais rápido e que está presente em tudo que vive, nesse vazio onipresente, é onde vive o grande mistério que chamamos de Deus, na minha opnião. De lá que vem nossas vontades. Do mesmo modo místico que enxergamos nossas lembranças na mente ver vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=8t7I1Sl3G2k&feature=related) É importante enfatizar esse espaço mínimo entre a matéria dentro de cada um de nós. Esse vazio assombroso que uni a matéria como rochas na montanha. Cada célula solta e ao mesmo tempo colada. Bem como a água que no mar é uniforme mas na chuva é solta. Feito a comida de pião chamada de "Capitão" onde se junta arroz e feijão na mão e aperta bem para virar tipo um bolinho. Algo parecido com o angú que solto é fubá mas que ná água quente fica cremoso e uniforme. Assim é o mundo visto de longe. Se pudermos distanciar infinitamente do universo e olhassemos pra ele, veríamos um bolo de luz. Dentro disso tudo estão os nossos sentidos e não tenho mais nada a dizer porque me perdi. Isso faz parte. Meu livre arbítrio está confuso e não sei escolher sobre o que realmente quero falar. rs rs. Meus sentidos se perderam, não sei mais dissertar sobre o tema. Estou confuso. Preciso decidir entre parar de escrever ou continuar. Mas não consigo. Eis um dilema, o que fazer senhor? Ele me disse pra parar por aqui antes que as pessoas pensem que sou um idiota, rs rs rs.
Abraços a todos.

Celinho
11/11/2010

A ilusão do livre-arbítrio

Embora tenha sido objeto de discussões na filosofia grega, foi com Santo Agostinho, no século IV, que o livre-arbítrio se transformou em doutrina teológica, sendo a partir daí amplamente difundida e adotada pelos religiosos. Grosso modo, o livre-arbítrio seria a possibilidade de agirmos conforme nossa vontade em casos que, obviamente, há escolhas a serem feitas. Por outro lado, não há livre-arbítrio quando não for possível agir de forma adversa.
No cotidiano, temos a faculdade de realizar ações que, em tese, poderíamos não realizar caso quiséssemos. O que defendo aqui é que esta noção não é tão simples quanto parece. Será que temos realmente a faculdade plena de escolher entre essa ou aquela hipótese? Estamos inteiramente livres para escolher entre fazer ou não fazer certas coisas?
Já no século XVII, Spinoza dirá que “a vontade não pode ser chamada causa livre, mas unicamente necessária”. Talvez começasse aí a ideia que Freud alicerçou como sendo suas teorias sobre os impulsos e desejos da nossa mente e que atualmente, viria a inspirar Giannetti no seu fisicalismo. Freud, sem modéstia, anunciou que suas descobertas sobre o inconsciente causariam na raça humana o sofrimento pela terceira “cisão narcisista” (1) por afirmar que o homem não age de forma livre, mas sim conforme seus impulsos e desejos inconscientes, como se fossemos reféns do mesmos.
O fisicalismo (2) irá mais longe ainda e irá propor que o “eu” é uma construção da mente. É um ente abstrato que acreditamos existir devido a nossas experiências de vida, mas que na verdade, não é nada senão o nosso próprio cérebro exigindo as satisfações e as realizações de nossas vontades, forçando-nos agir da forma que agimos.
Desta forma, acreditamos estar agindo a todo instante conforme queremos e escolhemos sem notar que na verdade, estamos satisfazendo desejos - e não necessidades - que se encontram em nosso inconsciente. Tal noção é facilmente percebida se começarmos a notar o que nos leva a consumir certos produtos, a trabalhar em certas atividades e a nos relacionar com determinadas pessoas. Sem muito esforço, perceberemos o quanto condicionamos nossos atos aos resultados que estes trarão. Por vez, estes resultados que almejamos são construídos pelo meio social em que vivemos, de forma que nossas ambições e desejos são moldados não só pela realidade que vivemos, mas também por aquela que desejamos viver. O agir é condicionado à finalidade. Conforme Jamie Arndt, psicólogo da Universidade do Missouri, "sabemos que o que é acessível em nossas mentes pode exercer uma influência no julgamento e comportamento simplesmente por estar ali, flutuando na superfície da consciência".
Voltando à Spinoza, o filósofo dirá ainda que “o esforço pelo qual cada coisa se esforça por perseverar em seu ser, nada mais é do que a sua essência atual, sendo que, a partir das afecções que a coisa sofreu, ela tende sempre a buscar aquilo que a conserve ou aumente a sua capacidade de afetar outros corpos” (3).
Spinoza tece críticas relevantes ao livre-arbítrio que acreditamos ter considerando-o mera ilusão (o que Giannetti trabalhará também em sua obra “O Auto-engano”). Embora em outras palavras, o filósofo descreve metaforicamente mas, de forma parecida, o que Freud cunhou em relação ao controle de nossos desejos e impulsos no trecho seguinte: “Se a pedra lançada tivesse consciência do seu movimento e da sua tendência a perseverar no movimento, julgar-se-ia livre, na medida em que ignoraria o impulso que produziu o seu movimento, que determinou de uma certa maneira a sua faculdade de estar em movimento ou em repouso. Do mesmo modo, aquele que na cólera, na embriaguez ou em sonho, crê agir livremente, é porque ignora as forças que o impelem contra a sua vontade.”
No campo religioso, o livre-arbítrio não pode ser visto senão como uma limitação aos poderes de Deus, pois, sendo ilimitados seus poderes, não haveriam explicações para que ele não interferisse positivamente na Terra para impedir os males. A teodicéia proposta por Epicuro é incisiva neste aspecto: se Deus é onipresente (está em todos os lugares), onisciente (tudo conhece e sabe) e onipotente (tudo pode), em conclusão, só há três hipóteses para explicar os males mundanos. Ou Deus é cruel e não quer deter o mal, ou é impotente porque não pode detê-lo ou por último, ele não sabe como fazê-lo. Com o livre-arbítrio, a noção de que "nem uma folha cai da árvore sem a vontade Deus" se desfaz e é transferida para nós a responsabilidade de tudo (ou quase tudo) que nos rodeia. Deus se exime das desgraças terrenas, cabendo a ele apenas julgamentos pós morte, o que em contrapartida cria sérias controvérsias quanto a responsabilidade de Deus para com o mundo e para com o homem (sua criação à imagem e semelhança).
Em suma, diria que é complexa a noção que possuímos de livre-arbítrio pelos motivos expostos tanto no âmbito prático como no teológico. Se há mesmo uma possibilidade plena de escolha e se somos realmente "condenados à liberdade" como propôs Sartre, podemos concluir que a existência ou não de um Deus é indiferente, pois nada muda para nós enquanto seres vivos e agentes. Por outro lado, se não há essa liberdade plena em que acreditamos, só restou a hipótese de que somos reféns de Deus ou dos nossos próprios desejos.

1 - Para Freud, a primeira cisão narcisista na humanidade aconteceu com a descoberta de Copérnico de que a Terra não é o centro do universo, mas uma parte insignificante dele. A segunda seria causada por Darwin, que retira o posto do homem de criação divina, comprovando através de seus estudos que nada somos senão uma espécie animal que evoluiu.
2 - Para o fisicalismo, mente é igual a corpo e tudo se reduz a um processo físico, não existem idéias privadas nem dualismo.
3 - Retirado da obra “A Ética” de Spinoza.