sexta-feira, 29 de maio de 2009

E num é que é?!


"O Brasil é o único país onde prostituta tem orgasmo, cafetão tem ciúmes, traficante é viciado e pobre é de direita."

(Tim Maia - Revista Veja em 1990)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Jesus

Quinto filho de uma pobre família, sem qualquer amparo, cresceu Jesus. Seus outros quatro irmãos tinham também nomes bíblicos devido à mãe, cristã fervorosa. Mesmo sem muita escolaridade e incentivo, o menino Jesus cresceu naquele ambiente violento e desprovido, com a curiosidade aguçada e acima da média dos outros jovens de sua idade.
Quando adolescente, muitas idéias lhe vinham à mente. Buscava respostas nos poucos livros que teve contato e nas poucas conversas que tivera com alguns adultos mais estudados do que ele. Intrigava-lhe o ser humano, egoísta e desumano. Acostumado com os tiros de arma de fogo, com a violência, com a polícia, com a morte que rondava cada esquina da favela onde morava, Jesus perdia a esperança nos homens e acreditava que eles realmente não sabem o que fazem. Ia à igreja e ouvia o padre. Em sua percepção, entendeu então, que tudo se resolveria em outra vida. Que esta vida é passageira e que para as pessoas de bom coração, está reservado um ótimo lugar no céu. Porém, Jesus queria uma vida boa aqui, na terra, com sua família e irmãos. Nada de promessas em outro mundo. Outro mundo este, que ele às vezes pensava não existir, pela obviedade de que ninguém que morreu, voltou para relatar. Jesus pensava, como poderia ele, um pobre garoto de favela, mudar a realidade do mundo. Se não fosse de todo ele, pelo menos a do seu bairro. Mas se ainda fosse demais, que mudasse a realidade da sua família... Pensara melhor... Lembrara do irmão mais velho que está na cadeia, da mãe que estava suspeitando de uma nova gravidez e de seu pai desempregado e alcoólatra. Achou melhor se conter e tentar mudar somente a própria vida, pois já seria um feito e tanto.
Jesus escutava a mãe várias vezes, repassando-lhe tudo que escutara nas missas. Mas todo aquele papo de esperança se desmanchava facilmente quando deitava em sua cama, olhava para o teto e pensava na vida. Pensou no tráfico, na religião e na morte. Esta última, às vezes lhe agradava. Soava-lhe um atalho. Já que a coisa se acertará em outra vida, melhor seria se adiantar. Sentia-se covarde, impotente, ignorante. Ouviu mais um tiro ao vento... Desesperou-se não pelo som que ouvia, mas pelo corpo que poderia estar caindo naquele momento. Em seguida, silêncio. Depois, vazio. Sentia que tinha que fazer algo. Não sabia o que. Pensara no futebol que tanto gostava e que por tantas vezes tirou jovens como ele da pobreza e elevou ao estrelato. Não se sentia um craque. Mas sonhava... A escola tinha sido abandonada para trabalhar. Nessa noite dormiu com cansaço mental por tanta reflexão.
Acordou. Era um dia como todos os outros e se viu entre escolhas reduzidas e complexas. Lembrou de um amigo que era espírita e que acreditava em reencarnação. “Este sim é feliz.” Queria Jesus, outra vida, outro lugar, outra época. Decidiu-se. Não teve dúvidas de que entre suas opções, o melhor era servir a Deus. Tornou-se fervoroso como a mãe e esperançoso como o padre. A angústia passou, o sol brilhou e a vida ficou mais leve. Passou a rezar horas por dia, todos os dias. Em pouco tempo, tinha convicção de que fizera a coisa certa e de que tudo se resolveria para ele... Em outra vida.