quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre o controle de nossas pretensões.


Ignorância. Estranho, quanto mais tento me afastar, dela me aproximo e me curvo. Reconheço o quanto sou ignorante. O meu conhecimento é miserável, ínfimo. Não passa de poeira. Vivemos ilhados no nosso mundo que parece grande, mas é tão medíocre e pequeno quanto a nossa ignorância. Fazemos parte do cosmo e dele somos partículas, daí a nossa insignificância diante do mundo e das coisas.

Não é pessimismo. É reconhecimento do que temos aqui e o que somos diante da grandeza misteriosa do universo.

Acabo de descobrir o Moacir, um Van Gogh a brasileira que vivendo nas Chapadas faz da sua arte primitiva, desprovida de recursos e totalmente rupreste um reforço da minha pequenêz e insignificância. Para ele, o pensamento está longe, e as formas, figuras que vê e descortina para suas obras são a mais pura verdade. Verdade que sua crença não quer presunçosamente edificar, mas que ele acredita e isso basta. O seu pequeno mundo se torna então um mundo bem grandão! Porque o seu mundo não tem limites, nem explicação, tem sensação. Ele não tem fronteiras, mas também não tem pretensões. E isso o torna magicamente diferente.

As nossas pretensões vão cercando, controlando, acercando e quando olhamos, putz.... viraram barreiras de contensão. É pretensão de agradar o outro, de ser o que não sou, de fazer o que não quero, de acertar e não errar.

Enfim, ficamos sobre o controle de nossas pretensões e nos esquecemos de fantasiar e sair por ai pintando a cara e rodando na “bicicleta.”

Inquietude, mesmice, casca dura e mais algumas palavras.


Escrever... um tipo de letra... primeiro vou escolher, um tipo de linguagem, um tema ou simplesmente vou escrever. Não porque posso, mas porque quero. E as palavras vão surgindo como que brotando do pensamento. Monto frases. Faço versos.

Falo do que doou (ato de fazer doer em mim mesma) e do que me interessa. Não exerço fingidamente o papel de escritora, apenas escrevo de modo que não agrado só a mim mesma, mas a minha mesmice. Mesmice de domingo, sem eventualidades, fugas, encontros ou tristezas. Apenas mais um.

Mas sinto uma inquietude, que me faz desprender de tudo e de todos, e me concentrar apenas em mim mesma. Uma inquietude do que não tenho e uma melancolia e agradecimento pelo que tenho. Mas é justamente, esta maldita inquietude, que me impulsiona a escrever na ânsia de devorar-me. Inquietude é coisa de menina, de criança. É às vezes acho que sou. Mas a inquietude também está na natureza, na essência humana. Afinal a criança vive em nós, ou melhor, esta na alma. Embora algumas almas já se encontrem tão cimentadas e secas.

Hoje ouvi sobre o amor, sobre a dose medida de liberdade e cuidado que ele exige.

Me peguei pensando nisso, porque às vezes nós abrimos demais, descuidamos. E o amor não é só um, são dois ou três, ou mais. Além disso, excesso de cuidado e falta de liberdade sufocam rapidinho...

Mas o problema maior acontece quando se quer sair da casca, e dar uma espiada no mundo em volta, ao seu redor! Quando se experimenta um pouquinho mais e deixa a casca no jardim. Aí você pode voltar- se quiser voltar – e encontrá-la no mesmo lugar, ou não.

Então...se vamos corremos o risco de ficar sem casca, se ficamos somos mesmice e melancolia. Casca velha e dura.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Divã, será que um dia você vai precisar?


É... vida é isso mesmo: a “arte do encontro, embora haja tantos desencontros...” como diria nosso querido Vinícius (o de Morais). E é justamente por causa dos encontros e desencontros que qualquer dia você vai precisar de um divã. Que não precisa ser necessariamente o modelo formal do psicanalista, que só ouve e não fala nada. Pode ser um ombro de um amigo ou de um desconhecido. Nunca seu marido, ou pai, ou mãe. A verdade é que, depois de tantos desencontros consigo mesmo, você vai acabar descobrindo que não sabe nada e que muitas coisas encobertas ainda hão de ser descobertas. Podem ser descobertas sutis e até fúteis, podem ser profundas, dolorosas e angustiantes. Podem ser deliciosas, adoráveis e excitantes. Tudo isso porque um encontro pode mudar todo o curso da sua vida, ou um desencontro mantê-lo fincado, plantado na mesma realidade. O divã pode ser o seu banheiro, o espelho, pode ser um dedo e até mesmo um travesseiro. Pode ser pago ou pode ser gratuito. Pode te trazer respeito ou até mesmo desespero. Pode te fazer chorar ou rir. Enfim, o divã espera por você.
Existem aquelas pessoas que passam a vida inteira correndo do divã. E ai, passam o tempo todo no desencontro consigo e com a realidade. Talvez por fraqueza, talvez por coragem em aceitar o desencontro e rejeitar o encontro. Na verdade às vezes é confortável evitar o choque.
Enfim... precisar a gente precisa. Mas para uns não custa nada adiar, não é?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

VIVER É UMA DROGA

Sempre, por aí, se escuta história de gente. Gente que dedica uma vida ao trabalho. Histórias de gênios que passaram horas, meses, anos ou décadas a percorrer a trilha de um ideal. Ouço dizer, sobre jovens que dedicam dias e noites, durante anos, para passar em concursos. Jovens que estudam 10 horas por dia, seja qual for a disciplina, para serem os melhores. Esportistas que treinam o dia todo, sem tempo para mais nada, para ser campeão, para bater o recorde, para chegar ao pódium. Enfim, sempre há histórias de sacrifícios por trás dos vencedores. Há até mesmo, aqueles que não fazem história, mas que não perdem as esperanças diante da máquina do tempo e, com toda garra, levantam às 5 horas da manhã, pegam seu transporte, viajam, trabalham todo o dia e só chegam em casa a noite, quando já é hora de dormir para recomeçar no dia seguinte.
Frequentemente, me pergunto se não nasci para perder já que sou um cara drogado! Me envolvi com esse tipo de coisa na adolescência, quando descobri a música e tive minhas primeiras experiências com o mundo. Logo, foi se tornando mais intenso e foram aparecendo os amores, as festas, muitos amigos, as bandas... Mais tarde, os livros, a família, a liberdade, os lugares, as pessoas de um modo geral... Até então, parece que nada me puxou, nem o tempo, nem a grana, tudo às vezes perde o sentido. Outras horas, o sentido me soca. Como usuário, tive altos e baixos...
Hoje, me encontro aqui, no primeiro dia útil do ano de 2010, de ressaca, procurando maneiras de me desintoxicar depois de um feriado prolongado de fim de ano com direito a boas companhias, descanso, prazeres, risos, conversas, bebidas, filmes e músicas, boas noites de sono e de sonhos... Tenho consciência do meu vício, mas nada disso torna mais fácil me livrar dele. Droga alucinógena, estonteante, que quanto mais se prova, mais se quer. Mesmo que tudo traga sofrimento, angústia, incertezas, fins e recomeços... Apesar de tudo isso, não tenho dúvidas de que VIVER é realmente a droga mais pesada e instigante que alguém pode experimentar. Pena daqueles que não tiveram tempo para isso.

"E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo que é bom,
Ninguém vai me dizer que tem, sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!" (Vinicius de Moraes)