terça-feira, 4 de maio de 2010

Dando pitaco no assunto do momento...

Depois de tanta polêmica neste blog, não poderia deixar de tocar em mais esta. Movido principalmente pela mídia, o assunto do momento, “Chico Xavier e o Espiritismo”, tomou grandes proporções e parece mexer com todo tipo de religioso e porque não dizer, também conosco, os céticos.
Milhares de sites sobre o assunto tomaram a internet, revistas foram publicadas e um filme produzido virou campeão de bilheterias no país. De maneira alguma, pretendo aqui discorrer sobre o tema mais abordado “Chico Xavier: verdade ou farsa?”. Até porque, particularmente, se o mito brasileiro foi uma fraude ou não, pouco importa diante de sua conduta humana. Pelo que se conhece, o médium cresceu e viveu pobre, fazendo caridades e ajudando a todos da maneira que podia. Nunca reivindicou nem os direitos autorais de suas obras (que ultrapassam 450 livros), já que afirma não terem sido escritas por ele propriamente, mas sim pelos espíritos que o guiaram. Sinceramente, o que não quero fazer é especular sobre o que há de científico nesse assunto até agora, que é praticamente nada.
Mas onde está a polêmica então? Fácil. Está na estrutura ideológico-religiosa brasileira. Como pode “o maior país católico do mundo” se interessar tanto por espiritismo? Repetindo frases de um texto antigo, só posso considerar então, que o Brasil é uma nação de “católicos apostólicos baianos”, onde todos pertencem a várias religiões e a nenhuma ao mesmo tempo. Tomados pela “santa ignorância” (e o trocadilho aqui é proposital, como diria o filósofo), o brasileiro se agarra em tudo que pode. E quanto mais, melhor. Um povo que, em sua maioria, participa de novenas, vai à missa, ao terreiro, acredita em Deus, Oxalá, Jesus, diabo, Preto-velho, Iemanjá, lê a bíblia num dia (quando lê) e Alan Kardec no outro, faz simpatias nas sextas-feiras de lua cheia e jejum na Sexta-feira Santa, não pode ser levado muito a sério.
A Bíblia, que dizem os católicos ser "a palavra de Deus revelada", expõe de forma objetiva em Levítico 19:31, “Não vos voltareis para os que consultam os mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não ficardes contaminados por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus”. Em Deuteronómio 18:9-12, lemos: “Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.”
Não só nestas passagens, mas em várias outras, o livro sagrado do catolicismo condena o espiritismo explicitamente. Como será possível então, frequentar ou admirar simultaneamente duas religiões que se contrapõem? Resposta: não sabendo do que se trata uma ou a outra. Como o fiel da Igreja Católica geralmente não é, na verdade, um fiel (pelo menos no Brasil) e muito menos um estudioso dos fundamentos da religião que escolheu, então vale tudo! Parece que por aqui o conceito de “fé-cega” é entendido de forma literal. Dezenas de perguntas poderiam ser feitas, mas pelo visto, falta o mínimo de senso crítico para quem se habilita a transitar entre os mistérios da religião. Afinal, a pessoa morre e vai para o céu, para o inferno ou fica vagando por aí? Se nem um, nem outro, para onde vão as almas então? Como é isso? Os médiuns podem “requisitar” almas no inferno ou no céu? E quanto às escrituras sagradas? Se a Bíblia é a palavra de Deus e nela creio, poderia eu então procurar os espíritos para uma consultinha ou uma palavrinha rápida? O problema não são as almas - nada contra elas - mas todo o aparato abstrato advindo de suposições para que elas existam (detalharei isso melhor em um texto posterior).
As pessoas não percebem o quanto as religiões tornam-se frágeis com esse "mix religioso". Gosto de entrar nesse assunto apenas para demonstrar os motivos pelos quais as pessoas se tornam, a cada dia que passa, menos religiosas. O problema está no discurso, na base ideológica que não cola de tanto se misturar, fragmentar e por outras vezes de se contradizer.
Acho que Dawkins acertou em cheio: o que há no ser humano é um “fetiche pelo místico”. Parece ser uma tendência do homem. Como aproximar-se do desencantamento e da racionalidade fosse inseguro ou ousado demais. A realidade nua e crua da vida amedronta mais do que almas penadas, possessões, demônios e finais apocalípticos para o mundo? Acredito que não.
E já que o assunto neste blog mais uma vez é a fé, para o bem da humanidade, vou professar a minha depositando-a por completo em um futuro mais iluminado e com gente mais desconfiada. Amém!

Só para constar, neste instante lembrei-me que um dia desses, andando pelas ruas do centro da cidade de Sabará, me deparei com uma placa em um recinto onde estava escrito "Curso de Espiritismo". Passo por uma outra e vejo em uma porta da Igreja Universal: "Sessão de desencapetamento". Sem comentários...