quinta-feira, 8 de março de 2012

MISS IMPERFEITA ( Martha Medeiros)


"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.

Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão, e ainda faço escova toda semana - ah,e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero,o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero!

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra."

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Até o próximo inverno da alma.

São 01h23min da madrugada. Acordo de rompante no meio da noite. De súbito levanto, numa necessidade louca de expelir algumas palavras. Minha cabeça tá misturada de coisas. Penso no trabalho, nas possibilidades, penso nas pessoas, nas escolhas. Penso no meu pequeno Arthur, nas nossas brigas e discordâncias. Penso que ele ainda é uma criança. Penso no feriado, no fim de semana e nas férias da alma que nunca chegam. Penso no passado, nas coisas que me amoleciam e me movimentava. Penso no ciclo detestável, porém necessário do mês de Agosto. Penso nas palavras de amor não ditas, nos hinos de amor não ouvidos, nas histórias não repartidas. Penso na dança, no teatro, na poesia. Penso em Manuel de Barros e tenho vontade de virar borboleta.

Já passei por tantas metamorfoses, mas não basta. Agosto é sempre tempo de recolher no casulo. Ainda bem, que vem chegando setembro. Minhas asas estão apertadas na frieza do mês. Vontade louca de voar!

Talvez seja um delírio ou um excesso de lucidez. Impressionante como encaramos a realidade após certa idade. As coisas não se disfarçam mais, se apresentam como e tais são sem piedade ou mediocridade. Só não enxerga quem não tem olhos na alma. Mas, o problema são asas! A gente fica esperando elas crescerem, para depois voar. Esquecemos: as asas são sempre curtas demais e os vôos são altos e longos para quem não tem medo de voar.

Aliás, esperar é sempre um fato tão concreto na vida da gente! Até “Godot” a gente espera. Espera, espera... Mas eu sou tão imprudente! A espera me acorda na esfera da manhã. Tomo tombos, às vezes não sei esperar. Outras, me perco na espera da espera, esperando por um resgate. Nunca chega. Só eu posso romper o casulo, do ciclo, do mês de agosto, dos invernos da vida e instaurar a primavera. Que quando ela chegar, eu esteja pronta, ou quase pronta com minhas antenas. Que minhas asas tenham cores vivas e calorosas. Que eu atraia o amor, a doçura e o perfume. Que eu esteja pronta para voar mais um vez, em direção ao sol, até o próximo inverno da alma.

domingo, 1 de maio de 2011

Entre a vontade e a realidade: um conto de Natal

Joãozinho, desde que nasceu, sempre ganhou presentes no Natal. Sabia do bom velhinho Noel e, por isso, sempre nas noites de natal ia dormir cedo e com a ansiedade de acordar no outro dia ao raiar do sol para abrir os presentes. Quando estava já com seus 8 ou 9 anos, Joãozinho ficou muito curioso com tudo aquilo e, na noite de natal, resolveu levantar-se da cama para ir até a árvore. Chegando lá, ficou pasmo com o que via: seu pai colocava os presentes na árvore! Diante do que viu, Joãozinho entristeceu-se por demais. Principalmente porque, no dia seguinte, viu que o embrulho que seu pai carregava na madrugada anterior, era justamente no qual estava o presente que ele tinha pedido na carta ao papai Noel. A partir daí, mesmo com toda vontade que Joãozinho tinha em acreditar em papai Noel, isto já não era possível mais. Seus olhos não haviam lhe enganado e ele não estava sonhando. Estava plenamente consciente de ter visto o que viu. Com isso, apesar de desejar que fosse o contrário, que tudo aquilo fosse mentira, a realidade era mais persuasiva. Então, diante da impossibilidade de mentir para si mesmo, Joãozinho, infelizmente concluiu: Papai Noel não existe!

Moral da história: para crermos em certas coisas é necessário mais do que vontade. Não cremos naquilo que queremos ou escolhemos, mas sim naquilo que consideramos verdadeiro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sessão de descarrego

Assuntos polêmicos sempre foram os meus preferidos. Mas para variar, não vou desta vez descer a ripa no Papa ou na Bíblia, nem no Estado ou no capitalismo.
Como acho que estou precisando de algo novo, dedicarei algumas linhas a fazer observações sobre o espiritismo.
Há tempos atrás já fiz uma ressalva sobre esse “mix religioso” que acontece no Brasil. Catolicismo e Espiritismo se enamoram por aqui como se fossem irmãos - embora, na verdade, as doutrinas se excluam. (Leia aqui: Dando pitaco no assunto do momento).
Como também não quero mais fazer simples comparações entre o improvável e o surreal, introdutoriamente, para evitar repulsas frenéticas, farei uma pontuação sobre essas discussões que abordam a fé de forma, digamos, mais dura e realista. Então vamos lá, sem mais cerimônias...
Sei que para a maioria das pessoas “fé não se discute”, ou como diria uma amiga minha, “contra a fé não há argumentos”. Digo a estes que, se assim for, não podemos questionar os homens-bombas, nem os radicais islâmicos, nem rituais satânicos ou as circuncisões femininas feitas para que as mulheres não sintam prazer. O mesmo vale para açoites, apedrejamentos de adúlteros em praça pública e até mesmo a exploração da fé feita por algumas igrejas, nas quais os fiéis são impelidos a doar boas quantias em dinheiro, sob pena de irem para o inferno. Tudo isso é fruto da fé, logo, para muitos, seriam fatos indiscutíveis. Mas não para mim. Parto do princípio de que tudo deve ser permitido e lícito, desde que não invada a privacidade e nem traga prejuízos a outrem, sejam estes prejuízos materiais ou psicológicos. É sob este prima que se funda a liberdade e a moral moderna e é nele que me apoio. Neste sentido, digo que não é legítimo dar pedradas nos outros, nem mutilar, nem extorquir dinheiro alheio, nem amarrar bombas ao corpo e se atirar na multidão. Receio que ninguém que é vítima das doutrinas religiosas ignorantes queira isso. Não imagino que uma jovem adolescente que escape de uma circuncisão, depois de algum tempo se arrependa e vá ao cirurgião pedir que lhe arranque o clitóris. A dignidade humana existe concomitantemente com o sofrimento humano. Eles fazem parte de nós independentemente da fé, raça, crença ou situação econômica.
Concluindo, digo que, se podemos discutir e criticar partidos políticos, times de futebol, certos comportamentos, filmes e músicas, podemos também discutir e criticar a fé. Não há porque se calar diante dela. A fé é passível de críticas como tudo nesse mundo, principalmente quando ela traz resultados deploráveis, sofríveis ou negativos à raça humana como um todo.
Não diria que o espiritismo se encaixa em tudo explicitado acima, mas afirmo que, se ele defende idéias racistas, injustas e que estagnam as pessoas, tenho o direito de criticá-lo a partir do meu ponto de vista.
Inicio com a pior conclusão trazida pelo fenômeno espírita da reencarnação, que é a de que Deus é racista por privilegiar evidentemente certo biótipo humano. Para os espíritas, a reencarnação segue um critério similar a uma “promoção”. É simples: se você vive cometendo ações ruins, você sofrerá na próxima vida. Do contrário, se foi uma pessoa boa, na próxima vida desfrutará da felicidade e dos prazeres mundanos. Sendo assim, não há como concluir que os povos da Somália, Angola ou da Favela da Rocinha estão pagando os erros de vidas passadas. Por outro lado, obviamente, Suecos e Noruegueses foram “promovidos”. Chega a ser inacreditável, mas ouvi da boca de uma mulher espírita que “a raça negra é uma raça menos evoluída” e que “boa parte deles são reencarnações os soldados romanos”. Daí a explicação para tamanho sofrimento no Haiti, na África e nas favelas. Pessoa boa nasce branquinha, pessoa má nasce negrinha e no gueto!
Com essa lógica da “promoção”, o espírita dá explicações a tudo. Todas as desgraças estão relacionadas a suas atitudes na vida passada. Isso acontece mesmo que você não saiba nada do que fez na tal vida passada! Muito justo, não acham? Ou seja, você paga por aquilo que desconhece ter feito. É como se te jogassem na cadeia e não lhe dissessem por qual crime (acho impressionante como tanta gente, até mesmo católicos, absorvem essa explicação bizarra para o sofrimento humano).
Quer pior? Isso é imutável, pois está nos planos divinos! Você está sofrendo e nasceu para aquilo. É seu destino, ou se preferir, seu "karma"! Sua alma já entrou no corpo do bebê que sua mãe carregava (e que viria a ser você) programado para viver tudo isso - tudo para que você evolua, para o seu bem!
Nesta perspectiva, o tão aclamado “livre-arbítrio” dos católicos virou pó, pois não há como fugir dos propósitos terrenos preparados pelo Deus do espiritismo. É sua missão.
Alguns espertinhos poderão pensar: “ora, mas existem noruegueses sofrendo e africanos felizes”. A estes “espertinhos”, pergunto: “Quantos? Quantos noruegueses estão sofrendo com a miséria, com a doença, a fome, a guerra e com a insalubridade e quantos africanos possuem o conforto de uma moradia decente, um bom hospital, transporte, laser, uma comida farta e saudável, bem como uma boa educação, enfim, uma vida digna e prazerosa? Qual é a expectativa de vida na Somália e na Noruega, na Suíça ou na Dinamarca?”.
Não há como ser ludibriado por argumentos falaciosos como os da doutrina espírita se uma reflexão mais profunda for feita.
Para o espírita, o mendigo na calçada é uma pobre alma que não evoluiu e que agora está pagando pelos erros da vida passada. Ele não é um problema social. Se aquela alma não estivesse ali, estaria em outro lugar desde que estivesse sofrendo. Foi tudo premeditado por Deus. Este pensamento traz várias conseqüências no modo de ver a vida e como conduzi-la. Cria-se uma visão deturpada do ser humano, do sofrimento alheio e da sociedade.
Assim sendo, a caridade espírita não é uma benevolência, mas sim uma forma de ser “promovido”. Fazer boas ações na religião é subir degraus. Não há nada de bondade nisso. Onde há recompensa não há caridade. Há sim, uma troca.
É nisso que o espiritismo acredita. E é isso que eu, como ser humano, não posso deixar passar ileso.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Desejo e a Bolsa Amarela


Que droga!

Mais uma vez às vontades.

Me torno dona incontrolável dos meus desejos. Tento sentir com a razão, me controlar para não ir.

- Será que devo?

- O que?

- Controlar, ora!

Não sei o limite da consequência e da inconsequência, do ir ou do ficar. Só sei que quero e não estou conseguindo controlar. Minha bolsa amarela tá que não se aguenta. Ontem, quase que arrebenta. Já remendei a alça várias vezes, mas as pedras... pesam, viu?

Tento pedir ajuda, alguém pra dividir o desejo, os sonhos, mas quem é o outro se não espectador do meu prazer ou desprazer? Alguns se sujeitam a dicas, conselhos e tem mil opiniões a oferecer, mas ai, ai, o desejo é surdo e não quer nem saber. Ele continua preso na bolsa, sem espaço pra nascer, crescendo até uma hora que a bolsa vai romper.

Não sei se vou ou se fico, o problema é que tá dolorido, todo esse agito, esquisito, aqui comigo. Sexta feira eu resolvo, na segunda eu decido, na terça eu desisto e começo tudo de novo.

Tormento dos aflitos é quando um "desejo bonito," se torna sucumbido pela permissão da carteira vazia, desprovido e da alma sem coragem, em busca do desconhecido.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Primeiros aforismos

Sempre falo para as pessoas sobre minha paixão pela filosofia. Não raramente, escuto delas que filosofia é muito complicado ou então que é “coisa de gente doida”. Até agora não entendi porque pensar de forma crítica, na tentativa de compreender melhor o mundo em que vivemos, possa ser tão sofrível, complexo ou insano.

Para os gregos, Deus estava no Olimpo - uma alta montanha da Grécia. Mas um belo dia, o homem escalou o Olimpo. Jesus desmentiu os gregos e disse que “Nosso Senhor” está no céu. Galileu e Copérnico surgiram séculos depois e expulsaram-no de lá através de seus estudos. Bem adiante, foi a vez de Darwin provar-nos que não fomos criados à imagem e semelhança de Deus como imaginávamos, a não ser que Ele seja um primata. O discurso se modernizou e a igreja nos conscientizou de que Deus, na verdade, está "dentro de nós". Freud, por sua vez, com a descoberta do inconsciente, expulsou Deus de dentro de nós também. Mais recentemente, o atual Papa disse que Deus foi responsável pelo Big Bang e que o Gênesis é uma alegoria. Acredito que Deus agora está no limbo, lá no início de tudo, onde a ciência talvez nunca alcance. A atitude do Papa foi emergencial e necessária para assegurar a "existência" do “Todo-poderoso”.

O que as pessoas chamam de “sonho” deve ser sempre algo irrealizável ou, no mínimo, remotamente realizável. Do contrário, é melhor chamar de meta, objetivo ou plano. Isso talvez possa, prática e psicologicamente, encurtar a distância entre o desejo e a realização.

Conforme Hans Kelsen, uma norma sem coercitividade não pode atingir sua eficácia. Da mesma maneira devemos entender o demônio e o inferno dentro dos planos divinos. O que seria de Deus sem eles? Podemos inferir então que o inferno não pode ser aqui como muitos pensam. Senão, onde residirá a coerção divina?

Quando há rumores de que algum pastor está usando a arrecadação da igreja em benefício próprio, os fiéis não se enfurecem e nem precisam disso. Eles têm a convicção de que, se o pastor está fazendo isso, Deus o castigará. E por isso, nenhum deles deixará de pagar os dízimos seguintes. O dinheiro é para Deus e Ele sabe o que fazer e como punir quem pratica o furto. O mesmo não acontece quando o caso deixa de ser furto e passa a ser homossexualismo, aborto, drogas, alcoolismo, adultério, entre outros. Pela atitude da maioria dos evangélicos frente a estes problemas, concluo que o Deus deles só saiba punir sem interferência de terceiros os casos de furto.

Durante a vida, uma pessoa comum vive solteira por apenas três motivos:
1 - Por opção: ela deseja estar solteira.
2 - Por incompetência: ela não consegue segurar e nem administrar os relacionamentos que inicia ou não sabe bem como iniciá-los.
3 - Por arrogância: a pessoa se acha tão especial que ninguém serve para ela. Ninguém está ao seu nível.
Conclusão: se você tem saúde, está solteiro, buscando alguém para se relacionar e, depois de várias tentativas nada funcionou, seja mais humilde e inteligente para compreender as pessoas. Assim seu objetivo será alcançado.

A fé atua onde a ciência falha. Ela é a opção daqueles que não conseguem conviver com a dúvida e com o fato de que a ciência nunca resolverá todos os conflitos humanos (e nem é este o objetivo dela). Com isso, a fé acaba cunhando respostas improváveis e ilógicas que não explicam nada. Mas tudo bem. Elas cumprem bem a função de preencher as lacunas da ciência.

Se alguém lhe elogia a beleza você pode, como muitos, dizer: "são seus olhos". Ou simplesmente: "obrigado". Geralmente a resposta irá variar conforme a autoestima de quem recebe o elogio.

A modéstia cabe muito bem nas situações em que você não está seguro sobre aquilo que está falando. Do contrário, ela não serve para absolutamente nada!