terça-feira, 30 de agosto de 2011

Até o próximo inverno da alma.

São 01h23min da madrugada. Acordo de rompante no meio da noite. De súbito levanto, numa necessidade louca de expelir algumas palavras. Minha cabeça tá misturada de coisas. Penso no trabalho, nas possibilidades, penso nas pessoas, nas escolhas. Penso no meu pequeno Arthur, nas nossas brigas e discordâncias. Penso que ele ainda é uma criança. Penso no feriado, no fim de semana e nas férias da alma que nunca chegam. Penso no passado, nas coisas que me amoleciam e me movimentava. Penso no ciclo detestável, porém necessário do mês de Agosto. Penso nas palavras de amor não ditas, nos hinos de amor não ouvidos, nas histórias não repartidas. Penso na dança, no teatro, na poesia. Penso em Manuel de Barros e tenho vontade de virar borboleta.

Já passei por tantas metamorfoses, mas não basta. Agosto é sempre tempo de recolher no casulo. Ainda bem, que vem chegando setembro. Minhas asas estão apertadas na frieza do mês. Vontade louca de voar!

Talvez seja um delírio ou um excesso de lucidez. Impressionante como encaramos a realidade após certa idade. As coisas não se disfarçam mais, se apresentam como e tais são sem piedade ou mediocridade. Só não enxerga quem não tem olhos na alma. Mas, o problema são asas! A gente fica esperando elas crescerem, para depois voar. Esquecemos: as asas são sempre curtas demais e os vôos são altos e longos para quem não tem medo de voar.

Aliás, esperar é sempre um fato tão concreto na vida da gente! Até “Godot” a gente espera. Espera, espera... Mas eu sou tão imprudente! A espera me acorda na esfera da manhã. Tomo tombos, às vezes não sei esperar. Outras, me perco na espera da espera, esperando por um resgate. Nunca chega. Só eu posso romper o casulo, do ciclo, do mês de agosto, dos invernos da vida e instaurar a primavera. Que quando ela chegar, eu esteja pronta, ou quase pronta com minhas antenas. Que minhas asas tenham cores vivas e calorosas. Que eu atraia o amor, a doçura e o perfume. Que eu esteja pronta para voar mais um vez, em direção ao sol, até o próximo inverno da alma.

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