segunda-feira, 20 de julho de 2009

Show de audiência: horror, gozo e medo na TV

"Os meios de comunicação, especialmente aqueles que se aproveitam dos mecanismos sensacionalistas de exposição das mazelas sociais, exploram a elevação dos níveis de audiência por meio dos estímulos estéticos fortes proporcionados pela exibição de cenas violentas, que exercem sobre a afetividade humana um impacto ambíguo: ao mesmo tempo em que geram a repugnância, geram também o desejo de contemplação do horror. A sociedade da informação, na era pós-moderna, continua sectária da 'concupiscência do olhar'. Da mesma forma que um desastre desperta a curiosidade do indivíduo que se encontra próximo ao local desse acontecimento fatídico e vai ver todos os detalhes possíveis, assim também se dá quando os desastres são transpostos para as imagens da televisão. O máximo de prazer estético que pode ser fornecido ao telespectador por uma rede de TV é a exibição da morte de um indivíduo, ou, em circunstâncias mais atenuadas, dos conflitos entre as forças policiais e os criminosos, as ações de assaltantes, ou ainda as gravações secretas de repórteres sobre as vendas de drogas por traficantes. Em todas essas circunstâncias há no telespectador a erupção da repugnância, do horror e da lamentação, mas também um gozo secreto de prazer pela oportunidade que lhe é concedida de ver, sentado confortavelmente na poltrona, a destruição humana em múltiplas maneiras. O resultado existencial dessa soma de imagens, todavia, não tarda a aparecer, e é o medo."

(Renato Nunes Bittencourt - Doutorando em Filosofia pelo programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)

Nenhum comentário:

Postar um comentário