terça-feira, 7 de setembro de 2010

Esperando GODOT


14 de Agosto de 2010... Esperando Godot parte 1

Bom... acabo de assistir a uma montagem da peça “ Esperando GODOT”, de Samuel Beckett. Após uma sessão boquiaberta, confesso que sai do teatro de pernas bambas e mãos trêmulas. Mais uma vez, extremamente impactada pelo trabalho do nosso querido Marcelo do Vale, de quem muito me orgulho, e mais ainda pela sua ousadia em recriar um texto tão denso. A tarde, o próprio diretor me disse “ uns riem, outros se sentem sufocados”. Confesso, que me preparei para rir, tendo em vista a semana angustiante e cheia de dúvidas que tive. Mas tamanha foi a minha surpresa, que uma reação adversa tomou conta de mim e o fato é que: GODOT me desceu as pernas. Tremi. Amoleci, mas não sufoquei. Engraçado... o poder do teatro de nos tocar, diretamente naquilo que nos abrimos a ouvir. “É como uma terapia" dizia o diretor, "é como a vida", eu diria. A gente só ouve quando quer...

Durante todo o espetáculo me perguntava porque não me dediquei a investigar GODOT antes de assisti-lo? Porque queria entender cada linha, cada palavra? Mas a arte não é pra ser entendida, explicada e sim sentida, experimentada. Para o meu espanto, na primeira busca ao google encontrei algo totalmente diferente do que eu havia experimentado, então decidi não investigar mais nada e escrever. Escrever dento da minha deficiência e ignorância sobre Beckett, mas pautada na minha experiência com GODOT por Marcelo do Vale.

Bom, para mim, GODOT personifica o futuro, ou seja, o que virá amanhã, amanhã, amanhã... Os personagens estão presos nessa espera, sem tempo para o anoitecer, sem tempo para o descanso. Assim também é nossa espera: tão pesada, que não nos permite nem tirar as botas, nem romper as estruturas, não nos permite viver. Estamos sempre pensando no amanhã. As personagens Vladimir e Estragon representam a luta entre emoção e razão, entre o pensar e o dançar, o viver e o morrer. Assim como nós, estamos todos esperando um futuro perfeito, que nos faz distanciar da vida presente e nos soldar como pedras, congelando nossas ações e reações. Sentimos nos cansados, preferimos a forca e a morte – um jeito egoísta de apressar GODOT.

O menino? Ah... O menino desprovido da memória é o mensageiro da espera, que nos alerta: “ ELE não virá hoje”. “ GODOT, quem é GODOT? O que ele faz?” Vladimir e Estragon perguntam. E o menino responde: “nada” . Porque o futuro nada mais é que a certeza do nada, é ausência, o que ainda não é!

Já através de Pozzo e Lucky, os outros personagens, experimentei a personificação da existência com sua dualidade entre escravizar e ser livre. Que oprime e é, ao mesmo tempo, oprimida. Lucky carrega durante todo o tempo uma bagagem que só é deixada de lado quando ele dança. Para mim uma das cenas mais lindas! Pela primeira vez ele tira a bagagem das costas e dança. A dança é desengonçada, mas é uma dança, um sopro de liberdade, hora da alma vazia. Pela única vez ele se posiciona ereto. E como na vida, quando nos livramos das bagagens, ficamos mais leves e podemos dançar. A bagagem, o ter vivido, ás vezes se tornam um fardo pesado demais...

(Pausa. Meu texto repousa por alguns dias...)


07 de Setembro... Esperando Godot parte 2

De Godot para este feriado enfadonho e melancólico, talvez um pouco triste. Resolvo publicar meu texto. Acredito, a espera de Godot é eterna. Sem exceção padecemos todos deste mesmo ritual. Ora não nos damos conta, ora nos justificamos nele. Esperar, esperar, esperar... não seria melhor viver, viver, viver...

2 comentários:

  1. É isso Luciana, Godot invade a alma, lava o cérebro. Trememos nas bases.Godot já foi sentimento,houve uma época em que as pessoas estavam com Godot, usavam para transmitir a angustia, a ausência de perspectiva; e fico feliz em você ter ido de encontro a ele. Nos jogamos de cabeça e fizemos nossa impressão, criamos um novo carimbo, pq não quero fórmulas, fiz o que acreditei e mais uma vez você esceve de uma maneira impar e passa exatamente o que pensamos. mais uma vez obrigado pelas palavras. Godot nos chama a reagir, estou feliz por isso! um bjo.
    Marcelo do Vale

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  2. Bom...após tantas palavras, fiquei sem palavras..pois tem tudo haver, com o que vivo todos os dias...desejo de dançar, dançar, dançar...porque esta mochila é tão pesada, cheia de valores, de medos, de inseguranças, de receios, de regras...de apegos...mas como li hoje..." se é bom , se é ruim, só o amanhã vai dizer" (rubem alves)...viver o hoje e esperar as respostas do amanha, apenas no amanha....que vai chegar..é apenas vivendo um dia, após outro, sem esperar demais...pois as expectativas na chegada de godot, nos distanciam da verdadeira felicidade, e viver um pouco do menino, mais leve, sem muitas cargas...mas vivendo cada dia..pois " até aqui o Senhor nos ajudou" , e é maravilhoso ter esta visao..deixar rolar este texto...mas reagindo como nos chama Godot.
    Beijao

    Ana

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