terça-feira, 7 de setembro de 2010

Homogeneidade Cultural

É estranho como criamos certas expectativas sobre coisas que não conhecemos. Eu, por exemplo, achava que a Universidade era transformadora. Aliás, ela até é. Mas pensei que fosse em sentido amplo e não em stricto sensu. Sinceramente, pensei que passaria por um turbilhão de informações, com direito a choques culturais, exposição a uma pluralidade não vista até então e etc. Pensei que entrando para a Universidade estaria abrindo a "Caixa de Pandora do Conhecimento" e viveria experiências inesquecíveis, tanto na questão do saber e do aprendizado quanto nas relações interpessoais principalmente. Se tratando do curso de Direito da PUC então, nem se fala...
Nos primeiros dias de aula, confesso que minha autoestima nunca ficara tão baixa, pois imaginava que todos aqueles alunos se encaixavam no esteriótipo do universitário que havia idealizado: filhos da classe média, de pais com curso superior, com boas estruturas tanto materiais quanto psicológicas, acesso à cultura, à escolas particulares de qualidade, experiências internacionais e uma vida social interessantíssima na capital (já que sempre morei no interior). Eu não estava errado, eram mesmo isso em boa parte. Porém, minha ingenuidade levou-me a crer que quem leva uma vida dessas, inevitavelmente torna-se uma pessoa cult. E aí, neste autoengano é que fui ter o meu choque cultural de verdade.
Imaginei que todo mundo ali ou senão a maioria na sala, adorava música de qualidade, ia ao teatro, lia muitos e muitos livros, entendia de arte e política, era bem crítico e informado além de ter sempre algo interessante para falar. Quanta besteira da minha cabeça! Não sei de onde tirei isso! Olha só o que o preconceito faz com a gente! No fundo, salvo algumas exceções, eram todos iguais. Para quase todos, música boa é aquela que está arrebentando nas FM's, seja pagode, funk ou sertanejo. Filme bom é aquele que ganha Oscar, lota as salas de cinema e tem no mínimo 3 unidades em toda Blockbuster. Paulo Coelho, é o maior fenômeno da literatura brasileira e Reality Show é a melhor invenção das últimas décadas. As conversas são um pouco diversificadas. Pode-se aprender de forma aprofundada sobre maquiagem, roupas, grifes, jogos eletrônicos, carros e qualquer outra coisa do tipo, desde que seja igualmente essencial a todo ser humano.
Sendo assim, percebi que meus colegas do passado, lá do ensino fundamental, que estudaram comigo na escola pública do interior, não são tão alienados assim. A vida precária que eles levam na periferia não é o que os limita como eu pensava. No fundo, a única diferença é que eles fazem festa na laje ou na calçada para escutar suas músicas e falar dos seus assuntos preferidos enquanto outros fazem isso no salão do condomínio fechado da zona sul de BH. Apenas isso. Troca-se apenas de ambiente. O resto é tudo igual.
Estou feliz por romper com o esteriótipo que criei e por perceber que o que nos afasta do saber, nos aliena e deturpa nossos valores nem sempre é a condição socioeconômica. Ela apenas pode facilitar o nosso engrandecimento cultural quando for privilegiada, mas não é o fator determinante pelo que pude averiguar.
Por fim, a frustração em relação a expectativa que criei em torno do convívio pessoal na Universidade acabou servindo, no final das contas, para elevar minha autoestima novamente. Menos mau...

Um comentário:

  1. Engraçado como me identifico com essa situação. Também tive a mesma impressão ao entrar para a Universidade. Será quantos partilham desse sentiemnto? Acho que tem gente que nunca se incomodará, somos algum tipo de exceção?

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